Cultura & Cristianismo
15/06/2023Carta do Pastor à ovelha – 288
01/07/2023Despertamento espiritual
Para pastores, verdadeiro avivamento leva a avanço do Evangelho e significativas mudanças sociais
Por Patrícia Scott
Avivar significa tornar mais vivo e ativo. Por esse motivo, o termo avivamento é bastante utilizado no meio evangélico para designar momentos históricos em que a Igreja experimenta intensas vivências sobrenaturais. É o que parece ter acontecido no primeiro semestre de 2023 na pequena cidade de Wilmore, no estado do Kentucky (EUA), dentro do campus da Universidade Asbury, instituição cristã fundada em 1890.
No dia 8 de fevereiro, alguns estudantes permaneceram reunidos após a chamada capela – culto realizado regularmente no auditório da faculdade –, uma atividade obrigatória para todos os alunos. A estudante Alison Perfater, presidente do corpo estudantil da instituição, estava no recinto e relatou ao apresentador Tucker Carlson, da rede de TV norte-americana Fox News, o que aconteceu quando um dos colegas de classe começou a confessar abertamente seus pecados ao pequeno grupo.
Segundo Perfater, daquele momento em diante, a atmosfera mudou. A jovem descreveu: Sem qualquer razão aparente, a princípio, a quarta-feira, 8 de fevereiro, não terminou. De acordo com ela, os alunos permaneceram naquele lugar orando e adorando a Deus. Em pouco tempo, outros estudantes e professores se juntaram ao grupo, e a reunião atravessou a noite, estendendo-se ininterruptamente pelos dias seguintes.
Docentes e universitários se revezavam no auditório, e logo vieram pessoas de fora. As aulas na instituição foram suspensas, e as notícias acerca do culto que não tinha fim se espalharam pelo mundo. Multidões, vindas de várias partes do globo, inclusive do Brasil, formaram filas intermináveis na porta do anfiteatro, a fim de participar do culto. E assim foi durante 15 dias consecutivos. Até que, em 24 de fevereiro, a direção da universidade se viu obrigada a encerrar a reunião para que as atividades pudessem ser retomadas.
A Universidade Asbury tem um histórico de movimentos semelhantes. O primeiro ocorreu em 1905. Posteriormente, diversos eventos parecidos aconteceram nos anos de 1908, 1921, 1950, 1958, 1970, 1992 e 2006. Para muitos, o que aconteceu em fevereiro deste ano foi um avivamento. Entretanto, o Dr. Steve
Seamands, professor do Seminário Teológico de Asbury, afirmou, durante uma reunião realizada em uma igreja batista na Carolina Sul, que o termo mais apropriado para descrever o movimento espiritual ocorrido na universidade seria um despertar.
Na opinião de Seamands, ainda é cedo para avaliar se aquele evento trará os impactos de um avivamento. Segundo ele, os historiadores da Igreja consideram que um movimento genuíno dessa natureza é capaz de influenciar a sociedade e, assim, promover mudanças espirituais profundas. Na reportagem postada pelo portal de notícias Christian Headlines, o teólogo citou o norte-americano Jonathan Edwards (1703–1758) – líder do Primeiro Grande Despertar, no século 18 – para definir o que é avivamento. Edwards dizia que Deus, o Pai, tem esse desejo de exaltar e glorificar seu Filho unigênito e amado, e há certos momentos e ocasiões em que Ele acha necessário e deseja fazer isso de uma maneira extraordinária e poderosa. O Espírito é derramado quando Deus procura exaltar Jesus, informou. [Leia, no final desta matéria, o quadro Momentos históricos]
Chamada ao arrependimento – O Pr. Rafael Faraone, da Comunidade Bíblica Manancial, em Casa Verde, São Paulo (SP), explica que um fenômeno como o ocorrido em Asbury é a poderosa manifestação do Senhor. “Não somos responsáveis ou produtores de um avivamento”, assevera o pastor, destacando que um movimento dessa natureza acontece quando há convicção de pecado e arrependimento seguidos de intenso desejo de viver em obediência a Deus, entregando-se à vontade dEle em profunda humildade. Além disso, o ministro enfatiza que os grandes avivamentos da história apresentam alguns elementos em comum: humilhação diante do Pai com genuíno arrependimento, oração como estilo de vida e leitura diária da Palavra. “Há um despertamento da Igreja para ser testemunha de Cristo, evidenciando o poder transformador do Evangelho”, complementa o ministro, pontuando ainda que, quando o povo de Deus experimenta Seu poder transformador, os resultados são claramente percebidos.
A partir da mesma percepção, o Pr. Jamil Riback, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Maranhão, recorda um episódio memorável, registrado em Atos 2, no qual a pregação do apóstolo Pedro, no dia de Pentecostes, levou três mil pessoas a se renderem a Cristo. “Ele chamava o povo ao arrependimento, destacando o perdão dos pecados e o dom do Espírito Santo”, ressalta Riback, lembrando que Jesus tratou desse tema nas cartas às igrejas (Ap 1-3). Estas, diziam que o povo precisava se manter avivado e alertavam para os perigos do esfriamento espiritual.
O Pr. Vanderlei Duarte, líder estadual da IIGD em Sergipe, concorda com Jamil Riback e cita o texto de Apocalipse 3.15,16: Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente. Tomara que foras frio ou quente! Assim, porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca. “Não há variação no Senhor. Uma igreja cheia da presença do Espírito Santo impacta a sociedade.”
Declínio espiritual – Na concepção do Pr. Marinelshington da Silva, da Assembleia de Deus na Praia da Costa, em Vila Velha (ES), avivamento é ter sede da Palavra. “É buscar o revestimento de poder, que gera a evangelização fervorosa. Não é desvio, é volta, é retornar ao caminho. Não é inovação, é restauração. Não é fuga da Bíblia, é retorno às Escrituras.” De acordo com o ministro, para que seja avivada, a Igreja precisa buscar ao Senhor em oração, jejum e leitura bíblica. “O Espírito Santo dinamiza a obra divina, dando alegria e prazer ao cristão em servi-Lhe. O avivamento precisa ser uma necessidade. É imprescindível que o Reino de Deus e a Sua justiça estejam em primeiro lugar para o servo do Senhor.”
O teólogo e pastor batista Ricardo Capler pondera que o momento atual apresenta um paradoxo: ao mesmo tempo em que existe uma grande expansão do Evangelho, há uma crise ética, moral e espiritual generalizada. “Se levarmos a sério a Palavra de Deus e a missão dada pelo Altíssimo, entenderemos que o avivamento é uma necessidade não só da Igreja, como também de todo o cristão. Assim, levaremos essa questão para os púlpitos e para a intercessão”, avalia Capler.
Por sua vez, o Pr. José Bruno Pereira dos Santos, da Igreja Batista El-Shadday, em Arapiraca (AL), afirma que o avivamento acontece em momentos de declínio espiritual, de sequidão. “O cristianismo cultural não deve ser confundido com o bíblico. Atualmente, pessoas assumem identidade cristã, mas não vivem segundo os ensinamentos de Jesus. Então, se faz necessária a renovação espiritual, o despertar em Cristo.”
Já o Pr. Tiago Bentes, da Igreja Batista Reformada Farol, em Videira (SC), ressalta que, segundo as Escrituras, e, ao longo da História, os avivamentos sempre proporcionam restauração à Igreja e conversão aos perdidos. “Não é apenas um movimento de desabrochar dos dons, das profecias e das revelações, ou mesmo de transformação das emoções. É o agir de Deus na conversão dos povos.” De acordo com o pregador, todos esses movimentos se dão a partir de um grande derramamento de poder do Senhor. “Nunca desacompanhado da centralidade da Palavra como fonte de revelação do que Ele deseja”, ressalva Bentes. Sendo assim, o tempo dirá se o que aconteceu na Universidade Asbury recentemente é um avivamento real.
Momentos históricos
O Primeiro Grande Avivamento (1730-1760), também chamado de Primeiro Grande Despertar, ocorreu sob a liderança de pregadores como Jonathan Edwards (1703-1758), nas colônias norte-americanas, e George Whitefield (1714-1770) no Reino Unido. Nesse período, enfatizava-se a importância da experiência pessoal de conversão, além da necessidade de uma vida cristã mais ativa e comprometida. As igrejas cresceram significativamente, e os cristãos se engajaram em muitas atividades evangelísticas e filantrópicas.
O Segundo Grande Avivamento (1790-1840) destacava a necessidade de uma experiência pessoal de conversão e compromisso com Cristo. O pregador norte-americano Charles Finney (1792-1875) foi um importante líder desse movimento nos Estados Unidos a partir da década de 1820, marcada pelo aumento da atividade missionária transcultural.
O Avivamento do País de Gales (1904-1905) foi liderado por Evan Roberts (1878-1951), um jovem galês leigo que pregava a necessidade de arrependimento e o compromisso com a vida cristã. Há relatos de cultos que duravam mais de 24 horas. Em poucos meses, mais de cem mil pessoas se converteram ao Salvador, e a notícia se espalhou ao redor do mundo.
Influenciado pelos acontecimentos em Gales, o Avivamento da Rua Azusa (1906-1915), em Los Angeles, Califórnia (EUA), ocorreu sob a liderança de William J. Seymour (1870-1922). Na ocasião, o batismo no Espírito Santo foi enfatizado, com a manifestação do dom de línguas. Por isso, esse avivamento é considerado o marco para o surgimento do Movimento Pentecostal, que cresceu e se espalhou ao redor do globo. Estima-se que, hoje, existam mais de 600 milhões de cristãos pentecostais no mundo. (Fontes: Biblioteca do Pregador e Guiame)