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Pesquisa global mostra que jovens de 13 a 17 anos têm uma visão positiva de Jesus, embora não enxerguem os cristãos da mesma forma
Por Patrícia Scott
O que os adolescentes pensam sobre Cristo e Sua Igreja? Essa foi uma das perguntas centrais de um dos maiores estudos já realizados sobre o tema. Foram ouvidos mais de 25 mil jovens, com idades de 13 a 17 anos, de 26 países e 17 línguas diferentes, na América do Norte, América do Sul, Europa, África, Ásia e Oceania. O estudo deu origem ao relatório The open generation (A geração aberta, em tradução livre), publicado pelo instituto de pesquisas norte-americano Barna Group.
O documento concluiu que os adolescentes têm uma imagem positiva de Jesus e estão abertos a ouvir a respeito dEle. Quase metade dos entrevistados (49%) descreveu o Messias como amoroso, 46% disseram que Ele oferece esperança, 43% acreditam que o Filho de Deus Se importa com as pessoas, 38% O veem como confiável e 37%, generoso.
Porém, a mesma visão positiva não se estende aos seguidores do Mestre. Apenas 31% consideram os cristãos como pessoas amorosas, 18% acham os crentes em Jesus hipócritas e 16% que são muito críticos. Vale destacar que entre os entrevistados 48% não eram cristãos, 30% cristãos nominais – que não assumiram um compromisso pessoal com o Senhor –, e 22% se definiram como cristãos comprometidos. Este estudo teve como objetivo nos ajudar a entender os adolescentes de hoje. A impressão deixada por essas vozes é de que esta geração está aberta e, inclusive, curiosa sobre diferentes tipos de fé e de perspectivas, informou David Kinnaman, diretor-executivo do Barna Group, segundo o portal PR Newswire. Os dados sugerem que, embora essa geração possa não estar tão engajada com Jesus, está aberta a Ele, acrescentou. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Achados interessantes]
O teólogo e educador Lourenço Stelio Rega chama atenção para o fato de que a adolescência é uma fase com características próprias de avaliação da vida. “Os jovens não estão muito ligados às formalidades naturais de uma igreja como instituição. Para eles, valem mais os relacionamentos, a sinceridade, a transparência, a expressão de compreensão e o diálogo.” Na opinião de Rega, entre as peculiaridades das novas gerações está o fato de serem movidas por “causas” e não por esforço ou trabalho. Sendo assim, cabe às lideranças estabelecer um ambiente de acolhimento, ensino bíblico, companheirismo e desafios. “É preciso traduzir o Evangelho em uma causa a ser vivenciada pelas atuais gerações”, resume o teólogo, assinalando que as igrejas precisam ir ao encontro desse público de forma a compreendê-lo em seu interior, traçando um caminho para a introdução da Palavra. “Buscar ajudá-lo a construir um projeto de vida, não apenas no aspecto profissional, mas também em outras áreas.”
Mudança desconfortável – O Pr. Bruno de Oliveira, da Assembleia de Deus Ministério Belém, em Caieiras (SP), concorda que a Igreja precisa estar preparada para lidar com o adolescente da pós-modernidade. “Se o mundo mudou, quais ferramentas a Igreja tem para lidar com essa realidade?”, questiona o líder, ponderando que os princípios bíblicos devem permanecer inalterados, mas a abordagem e a forma como a Palavra é transmitida devem ser ajustadas. “Os cultos precisam ser proativos e sempre conduzir esse público a conhecer a vontade e o poder de Deus.”
Porém, na opinião do pastor, a visão negativa que os jovens têm da Igreja está atrelada ao senso de acomodação, característico desta geração, a qual não percebe a necessidade de transformação proposta pelo Evangelho. “Essa ideia tem se difundido entre eles, inclusive nas escolas. Mudança é confronto e, portanto, desconfortável. Por tal razão, eles entendem que a Igreja não ama, pois prega a desconstrução, o confronto, o desconforto. Querem ser aceitos do jeito que são, mas essa mentalidade não está na Bíblia”, explica o líder, lembrando que a Escritura trata de mudança de mentalidade, redenção e transformação de comportamento.
O Pr. Richard Vieira, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no centro de Pinheiro Machado (RS), acredita que a religiosidade de alguns é a causa da percepção ruim dos adolescentes em relação à Igreja. “Enquanto Cristo está preocupado com as almas, a religião atenta erroneamente para o exterior das pessoas. A transformação acontece de dentro para fora a partir do agir do Espírito Santo. É preciso entender o adolescente sem menosprezar os sentimentos dele. Saber ouvi-lo, enxergando a situação com as lentes desse jovem.”
Para Vieira, os seguidores de Jesus precisam rejeitar toda forma de falsidade e viver de acordo com aquilo que pregam e ensinam. “Os adolescentes avaliam se a conduta do cristão segue os ensinamentos da Palavra. Se isso não acontece, enxergam hipocrisia”, alerta o ministro, deixando clara a importância de a liderança possuir um canal de comunicação com os jovens, discipulando-os e incluindo-os nas atividades da comunidade de fé. “É necessário ganhar a confiança deles para que as orientações e os ensinamentos frutifiquem”, salienta o pregador, destacando Jesus como exemplo de líder que sabia construir relacionamentos focados na transformação de comportamento. “Cristo conversou com a mulher samaritana sem julgá-la, fazendo-a entender como era a sua condição de vida, os seus erros e a necessidade de mudança”, lembrou o pregador, referindo-se ao texto de João 4.7-39.
“Empatia e compaixão” – A líder regional do ministério Jovens Que Vencem (JQV) da Igreja da Graça em Santana, Uruguaiana (RS), Fernanda Rolim, salienta o tratamento concedido pelo Salvador a outra personagem da Bíblia: a mulher adúltera (Jo 8.1-11). “Jesus demonstrou uma postura diferenciada. Ele não a condenou, mas deu orientação para que ela mudasse a caminhada dela.” Fernanda acrescenta que as grandes distrações do mundo podem tirar o foco dos adolescentes em relação ao Reino de Deus, o que dificulta a construção do alicerce da fé. “Por isso, a Igreja precisa ser um local de encorajamento, amor, empatia e compaixão.”
Por sua vez, o líder do ministério jovem da Igreja Evangélica Batista de Vitória (ES), Victor Rodrigues, avalia que os adolescentes da atualidade estão muito ligados a pautas comportamentais e ideológicas e não gostam de ser confrontados. “É só observar a cultura do cancelamento presente nas redes sociais”, exemplifica Rodrigues. Segundo ele, é preciso que haja humildade das lideranças para perceber as próprias falhas e buscar mudanças, quando necessárias, sem abrir mão dos princípios e valores bíblicos. “Existem questões que não podem ser modificadas, e há também o choque cultural e de gerações. Mas a verdade da Palavra permanece inalterada. Então, a questão é como a mensagem está sendo transmitida”, avalia.
Visão irreal – Líder de adolescentes na Igreja Evangélica Resgate, em Itapoã, Vila Velha (ES), Rafael Zacche de Sá Silva ressalta que os meninos e as meninas chegam às comunidades de fé carregados de costumes e práticas mundanas. “No entanto, dentro dessa nova realidade, que é a igreja, percebem os olhares de reprovação e julgamento. É quando começam os questionamentos a respeito do amor de Jesus ensinado e derramado na cruz.”
Por tal motivo, Rafael pensa ser necessário caminhar com esses jovens, transmitindo o Evangelho em uma linguagem que compreendam. “Muitos já são excluídos em casa, não vivenciam o diálogo com os pais e não possuem senso de pertencimento. Por isso, desejam ser aceitos na Igreja. Quando isso não ocorre, há frustração e decepção.”
A escritora Susana Klassen publica textos em seu blog, o Faith Girlz, voltado para garotas. Ela acredita que, nessa fase, os jovens ainda estão desenvolvendo a capacidade de lidar com nuances e complexidades da vida. Na opinião dela, a imagem negativa que muitos têm a respeito dos cristãos advém da forma como a Igreja tem mostrado ao mundo o que é seguir Jesus. “Talvez a santificação esteja sendo apresentada como algo que acontece de uma vez por todas, e não como um processo realizado pelo Espírito Santo de maneira gradual até o fim dos dias”, deduz a escritora, frisando que os jovens precisam entender que todos estão em alguma etapa desse processo, portanto, não devem criar uma visão irreal do que é ser um seguidor de Cristo. “Pode surgir a falsa ideia de que os crentes são hipócritas. Se o cristianismo for pregado apenas como um modelo de comportamento, em vez de ser centrado na comunhão com Deus, quando ocorrer falha humana, haverá margem para acusações de incoerência.”
Klassen aponta que a percepção dos adolescentes nem sempre está equivocada. “Há hipocrisia e falta de amor no meio cristão, e precisamos de humildade para reconhecer isso. É prudente fazer uma avaliação a fim de identificar as áreas em que a Igreja precisa permitir que o Espírito Santo atue. O amor de Deus acolhe e mostra a verdade com compaixão, não acusa”, revela a escritora, assinalando que os adolescentes buscam aceitação, pertencimento e definição de identidade. “Cristo oferece os três aos que creem nEle e conclama os cristãos, por meio da Igreja e da comunhão dos irmãos, a oferecer isso a todos”, conclui.
Resultados interessantes
A pesquisa do Barna Group, que serviu de base para esta reportagem, apresentou outras informações importantes para serem registradas:
– Poucos adolescentes têm uma visão negativa de Jesus. Apenas 6% acreditam que Ele é irrelevante, 7% O veem como julgador, 8% dizem que o Redentor está totalmente afastado das questões da atualidade e 10% pensam que Cristo é conhecido pelas coisas às quais se opõe.
– Apesar da visão positiva que têm do Messias, os adolescentes ao redor do planeta não sabem muito sobre o Salvador: aproximadamente metade dos entrevistados (47%) acredita que Jesus foi crucificado, e, apenas um terço (33%) diz que Ele ressuscitou dos mortos.
– Para os adolescentes que relatam ser comprometidos com a fé cristã, há uma forte correlação entre seguir Jesus e experimentar satisfação, apoio e estabilidade. Os jovens que se declaram empenhados em seguir o Salvador tendem a perceber um maior senso de pertencimento do que seus pares que não têm a mesma conexão com o Filho de Deus.
– De maneira geral, os entrevistados se mostraram curiosos sobre o Mestre: 38% disseram estar muito motivados a continuar aprendendo sobre Ele e 21% declararam estar de alguma forma motivados a fazê-lo.(Fontes: PR Newswire e Barna Group).