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01/10/2022Vida longa
Pastores e especialistas explicam como as comunidades cristãs podem melhorar a qualidade de vida dos idosos
Por Evandro Teixeira
A Bíblia diz que avançar em idade é uma bênção. Uma existência longeva é sinal do favor divino, mediante a obediência aos Seus mandamentos: Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá (Êx 20.12). Entretanto, o peso dos anos traz consigo algumas limitações físicas e até mentais, apresentando alguns desafios.
Um deles é o ageísmo, termo utilizado atualmente para se referir à discriminação contra os idosos, baseada no preconceito de que a idade torna as pessoas inaptas para se envolverem em uma série de atividades. Em geral, aqueles que passam dos 60 anos logo começam a ouvir frases como: “Você está velho demais para isso”, ou “Lugar de velho é em casa”. De acordo com um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado em 2021, uma em cada duas pessoas no mundo já praticou ações discriminatórias que pioram a saúde física e mental dos idosos. Com o objetivo de reduzir os danos do ageísmo, a OMS lançou o projeto Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030), uma agenda que visa reduzir as vulnerabilidades dos idosos no convívio em sociedade.
A pedagoga Sandra dos Santos Pinto Conceição afirma que as maiores barreiras a serem vencidas pela terceira idade são colocadas por quem deveria dar apoio, mas não o faz. “O tipo de auxílio de que precisam exige tempo e paciência, coisas que a maioria das pessoas não possui”, lamenta-se a especialista, que é pós-graduada em Educação Social e congrega na Igreja Batista Herança da Graça, em Lindo Parque, São Gonçalo (RJ). Ela alerta que, diante das limitações impostas, alguns idosos podem se sentir inválidos e desenvolver depressão.
Nesses casos, a ajuda de um profissional pode ser necessária, desde que o idoso expresse o desejo de ter acompanhamento, como orienta a psicóloga Priscila Neves Moreira. No entanto, ela lembra que o atendimento especializado é recomendado nos casos em que a família notar alterações emocionais ou cognitivas, como desânimo e falhas bruscas de memória. Moreira explica que a representação negativa da velhice na sociedade atual contribui para muitos idosos se sentirem marginalizados. “No Brasil, há o preconceito e a falta de políticas públicas e de saúde de qualidade.”
Por isso, na opinião da assistente social Analu Serri Nóbrega, a sociabilidade proporcionada pelas comunidades cristãs é tão importante. Para ela, é fundamental que as igrejas tenham atividades capazes de reafirmar nesse grupo a autonomia e o sentimento de pertencimento. Uma dessas ações é estimular rodas de conversa. “Nessa dinâmica, os idosos terão a oportunidade de se expressarem livremente a respeito de diferentes questões, sobretudo sobre as dificuldades cotidianas.”
Para compartilhar – Visando ir ao encontro das necessidades daqueles que fazem parte da terceira idade, a Primeira Igreja Batista de Nilópolis (RJ) criou o Grupo da Idade de Ouro (GIDO). O trabalho é coordenado pelo aposentado Oswaldo Kleber Dore Reis, 68 anos, e pela sua esposa, Neuza Alves Dore Reis, 66 anos. Por meio do GIDO, os idosos participam de uma série de atividades em reuniões semanais, com pregação da Palavra, brincadeiras e dinâmicas em grupo. Segundo Oswaldo, os resultados são evidentes, havendo a melhora da autoestima. “Eles agora se sentem mais integrados à igreja.”
De acordo com Oswaldo Reis, todas as comunidades cristãs deveriam criar esse tipo de projeto, pois existem inúmeras atividades que os mais velhos podem executar tranquilamente. “Além de dispor de mais tempo, eles têm sabedoria e conhecimento para compartilhar”, pondera o aposentado, destacando o fato de que os idosos são receptivos ao aprendizado. Reis lembra que o GIDO foi o único grupo de sua igreja que não paralisou as atividades durante a pandemia, quando as congregações foram obrigadas a suspender os trabalhos presenciais. Ele explica que isso somente foi possível porque os participantes já estavam plenamente familiarizados com as novas tecnologias, o que facilitou a interação virtual. “Fazíamos lives e chegamos a ter 40 pessoas conectadas.”
Já na Catedral Batista da Fé, na Posse, em Nova Iguaçu (RJ), o foco principal está na escola bíblica dominical (EBD). Na classe da terceira idade, conduzida pela enfermeira Crenilda da Silva Conceição, 54 anos, os alunos são participativos e comprometidos com os estudos. Com o objetivo de torná-los ainda mais integrados ao ensino da Palavra, a igreja passou a preparar uma turma de professores de EBD da terceira idade. “Queremos mais participação dos idosos e estamos de braços abertos para recebê-los.”
A iniciativa é motivada pela visão de que eles têm muito a contribuir para a Igreja do Senhor. De acordo com Crenilda, para essa faixa etária, além do aspecto espiritual, permanecer ativo tem um impacto altamente positivo no desenvolvimento intelectual e cognitivo, ou seja, da percepção, da memória, do juízo e do raciocínio. Ademais, a enfermeira pontua que a oração e a leitura bíblica, essenciais para todo cristão, tornam-se mais relevantes nessa fase da vida.
Cuidados divinos – De fato, um estudo realizado em 2017 pela Universidade Baylor, no estado norte-americano do Texas, concluiu que orar é particularmente benéfico para os idosos. Segundo o documento, aqueles que mantêm uma vida de oração e intimidade com Deus são mais saudáveis emocionalmente. Ainda de acordo com o levantamento, a oração melhora também a saúde física e mental dos indivíduos com idades a partir de 60 anos.
Porém, os pesquisadores fizeram um alerta: os benefícios emocionais e psicológicos da prática dependem diretamente da qualidade do vínculo que eles mantêm com o Senhor. Os idosos que oram e enxergam o Altíssimo como amoroso e confiável são os mais beneficiados, porque a ligação estreita com o Criador lhes dá a certeza do cuidado dEle.
A leitura constante da Bíblia é igualmente importante nesse processo. Inúmeras sondagens demonstram que essa prática acarreta benefícios à saúde mental de pessoas de todas as idades. Um exemplo está no que revelou a edição de 2022 do levantamento State of the Bible (em tradução livre: Estado da Bíblia) feito anualmente nos Estados Unidos: pessoas mais comprometidas com a leitura do Livro Sagrado no cotidiano tendem a se mostrar mais esperançosas e resilientes do que a população em geral.
O Pr. Vicente Morais, 73 anos, ministro auxiliar na Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Juatuba (MG), não tem dúvidas do poder do Evangelho. Além da leitura bíblica e das orações, ele tem o apoio da esposa, a dona de casa Rita do Bonsucesso Morais, 68 anos, que está ao lado dele na obra do Senhor. Para muitos, sua idade seria um impedimento ao trabalho, mas, para ele, é um incentivo. “A dedicação à pregação das Boas-Novas me fortalece cada dia mais espiritualmente”, destaca. Ele é grato pelo suporte recebido na igreja, porque, sem isso, não teria obtido tantas conquistas. “Hoje, eu me considero emocionalmente bem e saudável, em comunhão com Deus e Sua obra.”
A empregada doméstica Maria das Graças Moreira de Souza, 64 anos, membro da sede regional da IIGD em Governador Valadares (MG) tem experiência parecida. Há 25 anos, ela se converteu assistindo ao Show da Fé, e não demorou muito para se envolver na obra. Desde então, participa de diversas atividades, como visitas e evangelismo. Para Maria das Graças, deixar de trabalhar para o Senhor é impensável. “Somos agraciados, dia após dia, pela misericórdia de Deus, que nos mantém de pé. Jesus é como um rio de águas vivas. Quanto mais mergulhamos nEle, mais nos sentimos renovados”, afirma. A serva de Cristo complementa dizendo que, apesar das limitações naturais impostas pela idade, sempre haverá algo que os mais velhos possam fazer na casa do Pai. “Precisamos de estímulos para continuar crescendo espiritualmente.”
Ser exemplo – A Palavra exalta a importância do idoso diante de Cristo. Por isso, na opinião da Pra. Raquel Coelho Pontes Ferreira, da Igreja Metodista Memorial de Itararé, em Vitória (ES), o papel dessa faixa etária é essencial nas comunidades cristãs. Em sua congregação, os mais velhos participam ativamente das reuniões de oração realizadas on-line. “Eles são maioria nesses encontros virtuais”, alegra-se. [Leia, no final desta reportagem, o quadroBênçãos na velhice]
No entendimento da ministra, as comunidades cristãs precisam dos jovens para avançar e dos idosos para sustentar os marcos que guiam as gerações mais novas. Segundo Raquel Ferreira, o obreiro mais antigo tem a responsabilidade de ser exemplo para os que estão chegando: respeitando as divergências próprias da diferença etária ou da falta de experiência, sobretudo daqueles que estão no início da caminhada de fé.
O Pr. Edson Tadeu Ferreira da Silva Júnior, líder regional da Igreja da Graça em Rio das Ostras (RJ), reconhece, no entanto, que esse contato entre os membros de gerações distintas nem sempre acontece conforme o desejado. Isso porque as igrejas necessitam quebrar o conceito distorcido, presente na sociedade, de que a idade avançada torna as pessoas descartáveis. “Por isso, alguns acabam agindo com certa frieza no trato com os mais velhos”, frisa o ministro, assinalando que a Igreja deve dar suporte aos servos de Deus mais experientes. “Para que eles celebrem, com toda a comunidade cristã, as conquistas, apesar das possíveis limitações da idade.”
Bênçãos na velhice
A Palavra apresenta diversas passagens que mostram quão importantes e abençoados são aqueles que pertencem ao Senhor e dEle recebem uma vida longa. Confira:
Diante das cãs te levantarás, e honrarás a face do velho, e terás temor do teu Deus. Eu sou o Senhor (Lv 19.32).
E, agora, eis que já hoje sou da idade de oitenta e cinco anos. E, ainda hoje, estou tão forte como no dia em que Moisés me enviou; qual a minha força então era, tal é agora a minha força, para a guerra, e para sair, e para entrar (Js 14.10,11).
Saciá-lo-ei com longevidade e lhe mostrarei a minha salvação (Sl 91.16 – ARA).
Os que estão plantados na Casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e florescentes, para anunciarem que o Senhor é reto; ele é a minha rocha, e nele não há injustiça (Sl 92.13-15).
Uma vida longa é a recompensa das pessoas honestas; os seus cabelos brancos são uma coroa de glória (Pv 16.31–NTLH).
Coroa dos velhos são os filhos dos filhos; e a glória dos filhos são seus pais (Pv 17.6).
E até à velhice eu serei o mesmo e ainda até às cãs eu vos trarei; eu o fiz, e eu vos levarei, e eu vos trarei e vos guardarei (Is 46.4).
(Fonte: Bíblia Sagrada)