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A amizade entre pastores e ovelhas é recomendável, desde que seja pautada pelo respeito de ambos os lados
Por Patrícia Scott
A cuidadora de idosos Judith Molina Machado dos Santos, 56 anos, mantém uma antiga amizade com a Pra. Mônica Terrigno. “Quando a conheci, ela ainda não estava no ministério pastoral”, informa Judith, obreira da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Centro de Nova Iguaçu (RJ), liderada por Mônica. “Oramos uma pela outra. Somos confidentes”, pontua a cuidadora, evidenciando, entretanto, que, nos momentos das intervenções pastorais, a amizade fica em segundo plano. “Não tenho dificuldade de abrir meu coração para ela. Na hora da ministração, ou de alguma orientação, acato a palavra dela, pois é canal de bênção na minha vida”, diz a obreira.
Esse contato não é um fenômeno raro. Pelo contrário. Muitos crentes olham o pastor de sua igreja como amigo, considerando-o mais do que um mentor ou conselheiro. Foi o que mostrou um estudo sobre o tema, realizado pelo instituto de pesquisas norte-americano Barna Group. O levantamento ouviu cristãos de diversas denominações e constatou a prevalência de ligações de amizade entre pastor e ovelha.
A partir dessa conclusão, a reportagem de Graça/Show da Fé foi em busca de respostas para as perguntas: “É conveniente o pastor ser amigo de suas ovelhas?”; “Qual é o limite do relacionamento entre eles?”; “Qual é o ensinamento bíblico a respeito do ministério pastoral?”.
O Pr. Jackson da Silva, líder regional da IIGD em Divinópolis (MG), explica que a principal função do pastor é estar próximo do rebanho a fim de cuidar dele, ensinar-lhe, apascentá-lo e direcioná-lo. “É preciso cercá-lo com oração, proporcionando-lhe cobertura espiritual.” Além disso, é necessário que o dirigente do Corpo de Cristo busque capacitação e discernimento espiritual, vindos do Senhor, para nenhuma alma se perder. “O mundo tem oferecido vários atrativos para tirar o povo de Deus do caminho da fé”, pondera Silva, assinalando a relevância de o pastor ser amigo de seus membros. Para ele, tal proximidade os deixará mais à vontade para compartilhar suas particularidades. “A integração fica melhor, inclusive, para que se possa falar abertamente acerca de determinados assuntos.”
“Líder espiritual” – Seguindo a mesma linha de raciocínio do Pr. Jackson, o Pr. Daniel Costa, da IIGD em Cabuçu, em Nova Iguaçu (RJ), enfatiza que essa convivência deve ser embasada no respeito. “É indispensável que o líder espiritual estabeleça um limite, para a liberdade não ser confundida com libertinagem”, frisa, ressaltando que Jesus Cristo, o maior modelo de pastoreio, chamava Seus discípulos de amigos. “Em João 10.11, está escrito: Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas”, destaca o pregador, citando também João 15.13 (Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos). [Leia, no final desta reportagem, o quadro O pastor na Bíblia]
São nesses moldes inspirados nas Escrituras que o estudante de Agronomia e obreiro Anderson Alves dos Santos, 24 anos, tem uma sólida amizade com a pastora de sua Igreja, Verônica Araújo, da IIGD no Centro de Bandeirantes (PR). “Em primeiro lugar, está a líder espiritual; em segundo, a amiga. É preciso saber separar”, ressalva Anderson, realçando que esse trato deve ser firmado no respeito e na confiança. “Ela é acolhedora, e isso transmite segurança diante de suas orientações.”
Foto: Arquivo Graça / Solmar Garcia
O estudante de Agronomia e obreiro Anderson Alves dos Santos: “Em primeiro lugar, está a líder espiritual; em segundo, a amiga. É preciso saber separar”
Foto: Arquivo pessoal
Conforme explica a Pra. Eliad Dias dos Santos, da Igreja Metodista do Bom Retiro, em São Paulo (SP), para uma comunidade cristã ser saudável, é fundamental haver amizade, compreensão, solidariedade e respeito. “Não acredito em um ambiente com base no autoritarismo. Pastorear é orientar, conduzir.” Santos sublinha que, antes de abraçar o ministério, fez amizade com pastores e a família deles, e ela permanece até os dias atuais. Contudo, a líder reconhece que nem todas as ovelhas terão afinidades com seus pastores capazes de sustentar uma amizade. “Se isso [essa similaridade] existir, melhor.”
Expectativas exageradas – Na opinião do Rev. Romer Cardoso dos Santos, diretor do Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro, há situações no ministério pastoral que não podem ser compartilhadas nem com os amigos. “A prudência deve sempre prevalecer. O pastor precisa ser pastor o tempo todo.” Porém, Romer dos Santos reforça que Jesus chamava Seus discípulos de amigos. “Se não houver amizade, não acontecerá um envolvimento verdadeiro entre ambos”, salienta, marcando que a autoridade pastoral deve ser fruto do respeito que advém da postura do líder como aquele que foi chamado pelo Altíssimo para cuidar de Sua Igreja. “O pastor é ovelha como as demais. No entanto, tem responsabilidade diante do Senhor, que deve ser reconhecida por todos. Não pode ser visto como alguém que foi retirado do meio das ovelhas para alçar um status superior.”
Foto: Divulgação / Nário Barbosa
O Pr. Natan Alves Martins, ao falar do papel dos líderes: “Ele não pode criar ovelhas dependentes. Cada um, diante do Senhor, é responsável pelas suas escolhas”
Foto: Arquivo pessoal
A conexão pastor-ovelha, no entendimento do Pr. Natan Alves Martins, da Assembleia de Deus, em Brasilândia 2, Setor Lapa, em São Paulo (SP), deve ser assegurada pelo bom senso. O pastor, acentua Martins, é um líder espiritual que não deve se intrometer nas tomadas de decisões de alguém. “Ele não pode criar ovelhas dependentes. Cada um, diante do Senhor, é responsável pelas suas escolhas.” Por outro lado, segundo Natan Martins, o membro da igreja não pode nutrir expectativas exageradas sobre o pastor. “Essa postura é de uma ovelha inconsequente e imatura.” De acordo com o pregador, a amizade saudável é construída com o tempo e pela convivência, que gera conhecimento e, por conseguinte, confiança. “Sem confiança, não há obediência, a qual deve ser conquistada”, conclui.
O pastor na Bíblia
No Livro Sagrado, a figura do pastor de ovelhas, profissão comum antigamente, é utilizada inúmeras vezes para se referir a Deus. Isso porque esse trabalhador precisava ter um cuidado especial com seu rebanho a fim de que ele não perecesse de fome e sede ou fosse dizimado por predadores. O Salmo 23 é uma das mais famosas passagens em que essa metáfora é aplicada: O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará (v.1). O textode Isaías 40.11 é outro exemplo: Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os braços, recolherá os cordeirinhos e os levará no seu regaço; as que amamentam, ele as guiará mansamente.
No Novo Testamento (NT), Jesus Se dá o título de bom Pastor, Aquele que oferece a vida por Suas ovelhas (Jo 10.11). Pedro, em sua primeira carta, vale-se dessa figura de linguagem referindo-se a Cristo: Porque éreis como ovelhas desgarradas; mas, agora, tendes voltado ao Pastor e Bispo da vossa alma (1 Pe 2.25). Assim, com o surgimento da Igreja, o termo passou a ser usado, ainda nos dias do NT, para designar os líderes eclesiásticos responsáveis pelo cuidado espiritual dos santos, como se vê em Hebreus 13.17: Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.
(Fonte: Bíblia Sagrada)
2 Comments
Ótimo trabalho!
Após perder muito tempo na internet encontrei esse blog
que tinha o que tanto procurava.
Parabéns pelo texto e conteúdo, temos que ter mais
artigos deste tipo na internet.
Gostei muito.
Meu muito obrigado!!!
Caríssimo, ore por nosso trabalho, pela revista e por todo aquele que usa o jornalismo para propagar a Palavra do Senhor. Que Deus te abençoe!