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Nova atração turístico-arqueológica em Jerusalém revela local frequentado pela elite religiosa e política de Israel nos dias do Novo Testamento
Por Élidi Miranda*
Devido às restrições de circulação impostas pela pandemia da covid-19, Israel ainda não está totalmente aberto ao turismo internacional. Mesmo assim, a histórica Jerusalém já conta com uma nova atração aberta ao público: o interior de um luxuoso prédio, construído no primeiro século da Era Cristã para sediar eventos promovidos pela elite que governava o país. A estrutura fazia parte do complexo arquitetônico do Templo.
Embora a construção possa ter sido contemporânea do ministério de Cristo, não há evidência de que o Filho de Deus tenha pisado no local. Isso porque, de acordo com os arqueólogos, o prédio era destinado a banquetes e outras reuniões administrativas, restritas à elite da cidade e a seus seletos convidados. A estrutura tinha dois grandes salões, recobertos com placas de pedra. Entre os dois compartimentos, havia uma área onde um grande chafariz lançava água sobre colunas ornamentais finamente adornadas. Sem dúvida, esse é um dos prédios públicos mais magníficos do período do Segundo Templo já descoberto até hoje, declarou a Dra. Shlomit Weksler-Bdolach, diretora da escavação.
O arqueólogo britânico Charles Warren (1840-1927) foi o primeiro a explorar o prédio, em 1867. Porém, as escavações ficaram paradas por mais de 150 anos até serem retomadas. A princípio, acreditava-se que a edificação datava da dinastia dos hasmoneus (cerca de 143 a 37 a.C.). Entretanto, moedas e peças de cerâmica encontradas posteriormente demonstraram que o prédio foi erguido nos anos 20 ou 30 da Era Cristã. O edifício, contudo, durou apenas algumas décadas, pois foi destruído no ano 70 com o Templo, após a investida do general Tito Flávio (39 a 81 d.C.).
Acredita-se que esses salões fizessem parte do projeto de reforma e expansão do complexo do Templo iniciado por Herodes, o Grande, que governou a Judeia de 37 a.C. a 4 d.C., como representante do Império Romano. Seu projeto era visto por muitos judeus como um sacrilégio, já que a arquitetura do santuário havia sido revelada pelo próprio Deus, no livro de Êxodo (25.8,9). Por isso, alguns historiadores denominam o Templo dos dias de Jesus como Templo de Herodes ou Terceiro Templo. Entretanto, as obras de ampliação e reforma só foram completadas muitos anos após a morte do rei romano.
Religiosos políticos – Os arqueólogos desejavam responder à seguinte pergunta: quem frequentava aqueles salões de Jerusalém nos dias do Novo Testamento? Sabe-se que, no início do primeiro século, a Palestina era governada por Herodes, o Grande. Quando morreu, no ano 4 da Era Cristã, o reino foi dividido. Um de seus filhos, Herodes, o Tetrarca (20 a.C. – 39 d.C.), assumiu o governo da Galileia. Mas o outro herdeiro, Arquelau (23 a.C. – 18 d.C.), não se mostrou capaz de controlar a parte que lhe coube, a Judeia.
Roma passou, então, a manter um governador na região. Por ocasião da morte de Jesus, esse cargo era ocupado por Pôncio Pilatos (que governou nos anos de 26 a 36, com poderes limitados). Uma de suas funções, por exemplo, era fazer julgamentos e proferir sentenças de morte, como no caso de Jesus (Mt 27.11-26). A governança, na prática, seguindo a tradição romana de dar poder a líderes locais subservientes, ficou nas mãos do sumo sacerdote. Nos dias do ministério de Jesus, esse cargo, o mais importante da religião e da política judaica, era ocupado por Caifás, que esteve na função dos anos 18 a 37 da Era Cristã.
O governo sacerdotal não era uma novidade. O Templo era o centro da religião e da sociedade judaica, e a casta levítica já havia governado no passado, durante a dinastia dos hasmoneus. No primeiro século, a elite sacerdotal era formada por integrantes de uma das principais seitas do judaísmo nos tempos de Jesus: os saduceus (At 5.17). A seita foi identificada pelo historiador judeu Flávio Josefo (nascido em 37) como o alto escalão social e econômico da sociedade na Judeia. Como líderes religiosos e políticos, submissos ao império, eles se esforçavam ao máximo para obter prestígio junto aos romanos. O prédio era usado pelas autoridades da cidade que queriam tanto impressionar seus convidados quanto angariar favores políticos, informou a Dra. Shlomit Weksler-Bdolach.
O interior dessa importante construção agora faz parte do tour pelos túneis do Muro das Lamentações. O passeio permite que os visitantes andem sob a cidade moderna, visitando diversas estruturas antigas, como esses salões, onde até a prisão e a morte de Jesus podem ter sido planejadas. Quem sabe? (*Com informações de Israel Today, Smithsonian Magazine e The Collector)