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01/06/2021Descoberta importante
Arqueólogos israelenses encontram novos fragmentos dos Manuscritos do mar Morto
Por Élidi Miranda*
É a primeira vez em seis décadas que pedaços da Bíblia são achados em uma gruta às margens do grande lago salgado de Israel, o mar Morto. Os fragmentos, escritos em grego, formam uma porção do livro de Zacarias (8.16,17) e outra de Naum (1.5,6). O material estava na caverna do Horror, que recebe esse nome porque, em incursões anteriores, foram encontradas ossadas de cerca de 40 pessoas (homens, mulheres e crianças). Apesar de ser uma tradução para o grego, o texto é bastante semelhante aos manuscritos hebraicos que servem de base para as modernas traduções do Antigo Testamento. Os fragmentos dos livros de Zacarias e Naum fazem parte de um rolo maior encontrado no mesmo lugar, na década de 1950.
A Autoridade de Antiguidades de Israel, responsável pela pesquisa arqueológica, anunciou a descoberta em março. A exploração está inserida em um projeto maior, iniciado em 2017, pelo qual já foram investigadas cerca de 600 cavernas em áreas desérticas de Israel, entre elas, uma na Cisjordânia. A caverna, que fica em uma formação rochosa totalmente escarpada, só pode ser acessada de rapel [técnica vertical praticada com uso de cordas e equipamentos para descida de paredões, vãos livres e edificações].
O objetivo do trabalho é catalogar todas as grutas da região e saber quais possuem artefatos antigos. Além de beneficiar a ciência arqueológica, de forma geral, trata-se de um esforço conjunto de diferentes órgãos do governo de Tel Aviv para evitar que as cavernas sejam pilhadas por ladrões. Os artefatos da região são cobiçados no mercado ilegal de antiguidades. Contudo, estima-se que cerca de 25% das cavernas do deserto da Judeia ainda não tenham sido exploradas, devido à dificuldade de acesso. Em muitas delas, é possível que nenhum ser humano tenha entrado nos últimos dois mil anos.
Texto confiável – Os Manuscritos do mar Morto são uma extensa coleção de pergaminhos e de fragmentos, datados de 300 a.C. a 70 d.C.. Os primeiros rolos foram achados nas cavernas de Qumran, ao norte do lago, no final da década de 1940. São milhares de peças de papiro, algumas mais bem preservadas que outras. Boa parte do material, por estar fragmentada, jamais poderá ser decifrada. Os manuscritos, em sua maioria escritos em hebraico, são considerados a mais importante descoberta arqueológica do século 20. A coleção agrupa porções de todos os livros do Antigo Testamento, com exceção de Ester e Neemias.
A descoberta dos manuscritos tem sido qualificada como de extrema relevância para judeus e cristãos, pois o material reúne o mais antigo conjunto de fragmentos de texto das Escrituras que se tem notícia. Além disso, sua evidência ajudou a comprovar a autenticidade de escritos do Antigo Testamento. As cópias ali reveladas são praticamente idênticas a textos mil anos mais recentes – que datam dos séculos 9, 10 e 11 da Era cristã. Estes eram tidos como os mais antigos escritos bíblicos desvendados até o surgimento dos rolos de Qumran. A descoberta desmentiu de forma veemente a tese surgida no século 19 de que a Bíblia havia sofrido centenas de modificações ao longo do tempo e de que o texto hebraico não era confiável.
Presença misteriosa – Os primeiros pergaminhos do mar Morto foram vistos pelo beduíno Mohammed Ahmed el-Hamed e estavam dentro de um conjunto de jarros. A autoria dos manuscritos é atribuída a integrantes da seita dos essênios, um grupo dissidente do judaísmo que teria fundado um monastério em Qumran. Os separatistas teriam se afastado do povo de Israel por discordarem de suas práticas espirituais, contaminadas pelo paganismo. Apesar de essa tese ainda ser bastante aceita, novos estudos arqueológicos têm questionado a existência do referido grupo, uma vez que escavações não mostram quaisquer evidências de que tenha existido ali um monastério, mas apenas uma grande olaria. Também não há sinais de que os tais essênios tenham habitado a região, o que torna ainda mais misteriosa a presença desses pergaminhos no deserto da Judeia.
Pode-se estranhar que o texto encontrado recentemente esteja em grego e não em hebraico, a língua original do Antigo Testamento. Entretanto, no primeiro século, traduções do Antigo Testamento para o grego eram comuns. Tudo começou muito tempo antes, com o estabelecimento do império de Alexandre, o Grande (356-323 a.C.). O grego se popularizou como língua franca, tal como o inglês atualmente, a ponto de se tornar necessária uma tradução das Sagradas Escrituras para esse idioma. A primeira versão grega do Antigo Testamento foi feita por 72 sábios judeus – e, por isso, recebeu o nome de Septuaginta – na cidade de Alexandria, no Egito. O trabalho começou em 285 a.C., ocasião em que o território egípcio estava sob domínio grego. A tradução foi um pedido de Demétrio Falário, bibliotecário do rei Ptolomeu Filadelfo (309 -246 a.C.). Concluída, a Septuaginta ajudou a tornar a Palavra de Deus conhecida em todo o mundo antigo. Segundo o historiador Abraão de Almeida, colunista de Graça/Show da Fé, nos dias das primeiras igrejas cristãs, essa era a versão conhecida por todos os crentes.
Especialistas afirmam que achados, como os pergaminhos da caverna do Horror, são importantes porque ajudam a manter a Bíblia como o livro antigo com maior quantidade de manuscritos preservados, transmitidos com clareza e precisão ao longo de milênios. (*Com informações de The Christian Post, National Geographic e Graça/Show da Fé)