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Pastores explicam a graça de Deus, que tem em Cristo sua plena manifestação
Por Patrícia Scott
A demonstração perfeita do amor de Cristo, que Se ofereceu livremente para morrer em lugar da humanidade pecadora, garantindo salvação eterna e bênçãos sem medida a quem nEle crê. Eis uma das definições possíveis para graça. Ela expressa o favor imerecido do Criador para com o homem e aparece 160 vezes na Bíblia. No Antigo Testamento, o texto original hebraico traz a palavra chen, derivada de chanan, que significa ser gracioso, misericordioso, ou ainda, mostrar-se favorável. No Novo Testamento, o termo original, em grego, é kháris – presente, vantagem, agrado, liberalidade, generosidade, aceitabilidade, favor ou boa vontade. [No final desta reportagem, leia o quadro Maravilhosa graça]
Antes de Jesus, as biografias de diversos personagens são demonstrações claras da bondade divina, como no caso da nação de Israel, liberta graciosamente após 400 anos de cativeiro no Egito. “A humanidade sempre desfrutou do favor do Altíssimo em todas as épocas antes de Cristo, mas não em plenitude. O Mestre veio ao mundo manifestar a graça de Deus de forma suprema”, informa a Pra. Ana Cláudia Santos, da Igreja Evangélica Pentecostal – Ministério Voz da Profecia em Anchieta, zona norte do Rio de Janeiro (RJ).
A ministra esclarece que o propósito divino é conceder a salvação à humanidade, e isso se cumpriu mediante a morte sacrificial de Cristo no Calvário, revelando o amor e a eterna misericórdia do Pai ao oferecer salvação e vida eterna a todos gratuitamente. “Ele liberta o pecador da condenação e do pecado, reconciliando com Deus os que depositarem sua fé na morte de Jesus e no sangue dEle derramado para remissão dos pecados, crendo em Cristo como Senhor e Salvador, independentemente de qualquer obra ou mérito de quem a recebe”, ensina.
O Pr. Dalton César Filho, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) na Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), enfatiza que o Senhor Jesus é o fator principal da graça divina nas Escrituras Sagradas. “A Sua aparição altera a estrutura e dinâmica da fé”, destaca o líder, citando o que o autor de Hebreus diz a respeito da supremacia de Cristo e da Nova Aliança estabelecida por Ele: Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas (Hb 8.6). “A grande diferença do Antigo para o Novo Testamento está em Cristo, que assegura a graça pela Nova Aliança, não por aquilo que fazemos, mas pelo que Ele mesmo fez.”
Frutos de santificação – O Pr. Rafael Mariano dos Santos, reitor da Academia Teológica da Graça de Deus (Agrade), acrescenta: “A graça é um favor imerecido que o Senhor proporciona”. Ele lembra que, a propósito desse tema, o Missionário R. R. Soares escreveu: A graça é um mover de Deus em direção ao homem. O pastor assinala que, curiosamente, a palavra graça não é citada nos evangelhos. Contudo, recorda o reitor, é possível extrair ensinamentos sobre o tema em diversas passagens, dentre elas, da parábola do credor incompassivo, relatada em Mateus 18.23– 35. “Cristo ensina sobre o amor ao próximo e a graça de Deus, ao narrar que certo rei perdoou uma dívida de 10 mil talentos”, adverte o pastor, esclarecendo que talento era uma unidade monetária da época de Jesus, equivalente a 15 anos de trabalho de um homem comum. “Se dividíssemos os 10 mil talentos por 15, a dívida só seria paga depois de 666 anos, aproximadamente, o que seria impossível.”
De acordo com Rafael Mariano, tal como na parábola, o perdão divino é concedido pela soberana vontade do Senhor, e, somente dessa maneira, o homem pode ser salvo da condenação eterna (Rm 3.23; 6.23). Entretanto, ele esclarece que, mesmo após receber a salvação pela fé, o crente continua precisando da graça para produzir frutos de santificação, para a glória do Senhor. “É assim que somos capacitados a andar em novidade de vida e buscar crescimento espiritual. Isso evidencia o caráter misericordioso e amoroso do Criador.”
O Pr. Jâmesson Santana, da IIGD em Seringal, na cidade de Pimenta Bueno (RO), acrescenta que esse dom divino é expresso também em nossos momentos de fraqueza, surgindo como poder sustentador. “Embora a graça independa das ações humanas, a fé e o arrependimento são fundamentais para experimentá-la plenamente.” Citando Atos 11.23 (O qual, quando chegou e viu a graça de Deus, se alegrou e exortou a todos a que, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor), Santana descreve uma pessoa cheia da graça como alguém cheio do Espírito Santo e de fé: “Um exemplo bíblico é o apóstolo Paulo, que experimentou essa transformação e se dedicou ao serviço e ao crescimento do Evangelho, mesmo diante das perseguições. Isso pode ser visto em passagens como Filipenses 1.21, quando ele declara: Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Essa afirmação reflete a profunda entrega e devoção ao Senhor, impulsionada pela graça recebida.”
Atuação amorosa – O apóstolo Sílvio Chaves, da Igreja Cristã Reino, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), afirma que a graça concede justiça à humanidade por intermédio de Jesus Cristo. “A graça é estendida a todos, conforme a explicação de Tito 2.11: Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens.” No entanto, o líder pondera que, apesar de a graça ser um favor imerecido, o pecado, a falta de fé, a desobediência aos mandamentos de Deus e a falta de arrependimento e de perdão podem ser obstáculos para recebê-la. “Entretanto, quem tem consciência de tais coisas e busca a presença de Cristo não perde a graça de Deus”, assegura ele, argumentando que, segundo as Escrituras, esse atributo é um tipo de agente, influência ou força. “Ela é a generosidade divina em ação. É o Senhor atuando amorosamente por nós”, resume.
O Pr. Bruno Jardim, ministro auxiliar na Igreja Batista da Água Branca, zona oeste de São Paulo (SP), salienta que a graça é um presente concedido gratuita e permanentemente. “Não há nada que possa pagá-la ou apagá-la, porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis (Rm 11.29 – ARA). O único pré-requisito é reconhecer que não a merecemos”, ensina ele, ressaltando que a manifestação desse dom celestial entre os homens transcende a dimensão da eternidade para alcançar a realidade diária. “Seu conceito está ligado à salvação (Ef 2.8) e ao nosso dia a dia (Tg 1.17). A graça é para a eternidade e para o cotidiano.”
Bruno Jardim pontua que a graça se manifesta de diversas formas e pode ser percebida em muitos momentos, como na comunhão e nos serviços cristãos. “Quando os membros da igreja se reúnem em amor e unidade, ela os une como família espiritual em Cristo, apesar das diferenças. Outro reflexo é a capacidade de servir e amar uns aos outros como Ele nos amou.” Além dessas, o pastor elenca outras maneiras de perceber a graça divina no dia a dia. Uma delas é reconhecer e agradecer pelas bênçãos recebidas. “Cada respiração, cada momento de alegria e cada provisão são expressões do favor do Pai. Esteja atento aos sinais desse amor ao seu redor e divida essas experiências com outros, pois esse dom precisa ser compartilhado”, conclui.
MARAVILHOSA GRAÇA
A essência desse favor imerecido se evidencia em toda a Bíblia. No Antigo Testamento, Noé achou graça aos olhos do Senhor (Gn 6.8), assim como Abraão; apesar de suas falhas, ele recebeu um chamado (Gn 12.1-3) e foi abençoado, tendo Deus cumprido a promessa de fazê-lo “pai de uma grande nação” (Hb 11.12).
A Lei de Moisés funcionou como um preâmbulo da graça divina, manifesta por intermédio de Jesus. De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos justificados. Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio (Gl 3.24,25), escreveu o apóstolo Paulo aos gálatas. Desse modo, a manifestação dessa expressão da bondade do Criador culmina com a Nova Aliança mediante o sacrifício de Cristo, abrindo um novo caminho até o Pai (Hb 10.19,20): Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus (Ef 2.8).
Tamanho gesto benevolente de Deus concede aos homens o dom de serem adotados por Ele. É o que Paulo escreve aos romanos: Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo […](Rm 8.15-17).
Esse dom garante o perdão eterno e presenteia os salvos em Cristo com a capacidade de andar em santidade. Aos romanos, Paulo declara: Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça (Rm 6.14). A Tito, o apóstolo lembra: Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente (Tt 2.11,12).
A graça divina coroa o ser humano com a salvação e as bênçãos manifestas nesta vida. Na carta aos Filipenses, Paulo diz: O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus (Fl 4.19). João, em sua primeira carta, ensina: Amados, se o nosso coração nos não condena, temos confiança para com Deus; e qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é agradável à sua vista. E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento (1 Jo 3.21-23).
A graça é maravilhosa porque capacita o homem a enfrentar as tribulações. Quando o apóstolo Paulo enfrentou um espinho na carne, após orar ao Senhor, recebeu dEle a seguinte resposta: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza (2 Co 12.9a). Por isso, o autor da carta aos Hebreus exorta: Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno (Hb 4.16).
(Fonte: Bíblia Sagrada)