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Pastores discutem orientações bíblicas a respeito do divórcio e do segundo matrimônio
Por Evandro Teixeira
O casamento é uma aliança sagrada entre um homem e uma mulher, conforme descrito em Gênesis 2.18-24: E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele. […] Então, o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas e cerrou a carne em seu lugar. E da costela que o Senhor Deus tomou do homem formou uma mulher; e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada. Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. Segundo a Bíblia, essa união não deve ser quebrada, a não ser pela morte de um dos cônjuges, ou nos casos em que a separação é permitida.
Entretanto, a dissolução conjugal tem sido tão banalizada, que especialistas e pastores afirmam que muitas pessoas se casam sem compreender o real significado desse compromisso e a responsabilidade implícita nele. “Na sociedade atual, a separação de casais se tornou comum. Isso é resultado de uma cultura anticristã, que deixa o ser humano cada vez mais egoísta. Sem amor a Deus e ao próximo, busca-se, primordialmente, a satisfação pessoal”, avalia o Pr. Marcos Paulo Feltrin, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em São Caetano do Sul (SP), ressaltando que devemos ter cuidado ao tratar desse assunto, justamente pelo fato de o divórcio e o novo casamento terem se tornado algo natural.
Citando Mateus 19.9, em que Jesus ensina acerca do divórcio, Feltrin esclarece que, se a desunião do casal é consequência da infidelidade de um dos cônjuges, a parte ofendida – caso não deseje uma reconciliação – pode buscar um novo casamento. “Embora a Bíblia apresente apenas essa condição para justificar uma separação, outras motivações poderão ser tratadas individualmente no gabinete pastoral. Situações de agressão e humilhação, tipificadas legalmente como crimes, não devem ser ignoradas”, pondera.
Esse assunto é complexo, e sobram dúvidas a respeito dele, mesmo entre os crentes. No portal Ongrace, site oficial da Igreja da Graça, perguntas sobre o tema endereçadas ao Missionário R. R. Soares são recorrentes. Certa vez, um internauta questionou: Nunca me casei. Hoje, tenho uma namorada que já foi casada. Se eu me casar com ela, estou em pecado? Soares explicou: A resposta bíblica depende de uma série de fatores que não estão em sua pergunta. Recomendo-lhe três coisas: Leia o livro Casamento, divórcio e novo casamento, de Gordon Lindsay; aconselhe-se com seu pastor, que deve estar a par da história de vocês, e não pratique sexo fora do casamento. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Visão bíblica]
Odeio o divórcio – Responder a esse questionamento nem sempre é fácil. É o que pensa o Pr. Robson Soares da Silva, da Igreja Batista em Rive, na cidade de Alegre (ES). Para ele, deve haver um trabalho de esclarecimento nas igrejas. “Essas questões precisam ser tratadas de forma ampla. Assim, os que podem e querem se casar de novo conduzirão a situação com mais tranquilidade”, pondera Silva. Porém, ele ressalta que o divórcio está fora do ideal de Deus, conforme lemos em Malaquias 2.16: Eu odeio o divórcio, diz o Senhor, o Deus de Israel (NVI). “O divórcio foi instituído por causa da fraqueza do homem”, acrescenta o ministro batista, citando Mateus 19.8: Moisés, por causa da dureza do vosso coração, vos permitiu repudiar vossa mulher; mas, ao princípio, não foi assim.
Por sua vez, o Pr. Victor Augusto Martins, líder regional da IIGD em Ribeirão Preto (SP), entende que cada caso deve ser avaliado. Assim, antes de darem aval ao segundo casamento, as lideranças devem saber se a separação teve respaldo na Palavra. Em contrapartida, o ministro observa que há pessoas aptas a se casarem pela segunda vez, mas que têm medo de reviverem os mesmos problemas do relacionamento anterior. Em se tratando de uma traição, além do trauma ocasionado pela infidelidade, a pessoa precisa estar atenta para não repetir os erros da união passada. “Sempre que aconselho membros da igreja nessa situação, dou essa orientação.”
A depiladora Monique Mello Rocha, 41 anos, da Igreja do Evangelho Quadrangular em Santa Eugênia, Nova Iguaçu (RJ), na Baixada Fluminense, vivenciou uma experiência dramática depois de se divorciar de seu primeiro marido. A decisão foi tomada com consciência e conhecimento do que diz a Palavra de Deus, mas ela reconhece que ingressar em outro relacionamento não foi simples, por causa das dores que sofreu.
Aos 18 anos, de modo inconsequente, e iludida pela ideia de ter mais liberdade longe da casa dos pais, ela rapidamente percebeu que a escolha de se casar havia sido precipitada. Aflita em razão das traições do ex-marido, a depiladora teve um aborto espontâneo. A separação só ocorreu depois de três anos de casada, mesmo Monique sabendo que sua família não a apoiava. Além de não querer continuar infeliz, ela sabia que tinha respaldo bíblico em Mateus 19.9 para seguir em frente. “Embora o perdão fosse uma possibilidade, por ter sido traída, achei que o melhor caminho seria reconstruir minha vida com outra pessoa”, admite.
Entretanto, até assumir um novo compromisso, Monique Rocha precisou superar traumas e inseguranças. “Tinha medo de me relacionar outra vez”, recorda-se. Por isso, somente seis anos após a separação, ela se casou de novo, com o contador Alexandre Gomes Meirelles Coelho, 51 anos. Eles não têm filhos e vivem uma união marcada pelo amor e pelo respeito.
Família feliz – O teólogo Márcio de Castro Lodoro, membro da Assembleia de Deus em Dourados (MS), lembra que o fim de um casamento deixa, além das marcas emocionais, encargos financeiros – como a necessidade de pagar pensão alimentícia quando existem filhos em comum. “Na primeira união, havia duas famílias envolvidas. Na segunda, o número de pessoas ligadas à vida de cada cônjuge aumenta. Sem dúvida, é um grande desafio.”
O Pr. Edinaldo Gonçalves Pereira, líder da IIGD em Asa Branca, na cidade de Boa Vista (RR), acredita que as experiências podem contribuir para a construção de um novo matrimônio, pois a pessoa saberá lidar com as dificuldades diárias. “Os problemas que incomodaram no passado não devem criar raiz no coração de quem pensa em viver uma nova união. É preciso rever conceitos e valores, para não cair novamente em armadilhas”, adverte o ministro, citando: O homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração, tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca (Lc 6.45).
Apesar das circunstâncias, Edinaldo Pereira entende que deve existir um esforço dos casais para a construção de uma família feliz. No entanto, o fator determinante para essa conquista é andar no temor do Senhor, como registra o Salmo 128.1: Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! O líder frisa que a comunhão com Deus é fundamental, porque haverá mais harmonia no lar. “Quando marido e mulher mantêm intimidade com Cristo, formam uma unidade no Senhor.O Pai celestial precisa ser o Centro de tudo em um relacionamento, pois um cordão de três dobras não se quebra tão depressa [Ec 4.9-12].”
Pensamento semelhante tem o Pr. Eduardo Galhardo, líder regional da Igreja da Graça em Santos (SP). Ele reafirma que o caminho para uma vida familiar feliz está em seguir as orientações bíblicas. Para isso, cita os textos de Efésios 5.25: Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, e de Provérbios 14.1: Toda mulher sábia edifica a sua casa, mas a tola derriba-a com as suas mãos. “A forma como cada cônjuge se relaciona com Deus pode ser espelhada na vida conjugal. No convívio a dois, a comunhão com o Senhor é essencial, pois quem, em primeiro lugar, se mantém fiel ao Pai terá o mesmo temor na hora de tratar seu cônjuge. Assim, viverá um casamento longevo e feliz”, assegura.
UMA VISÃO BÍBLICA
O livro Casamento, divórcio e novo casamento, do ministro, professor e escritor norte-americano, Gordon Lindsay (1906-1973), publicado pela Graça Editorial, relembra a origem divina do casamento, retratada Gênesis. A obra demonstra, de forma objetiva, o que a Bíblia diz a respeito do divórcio e do novo matrimônio. Nela, o autor responde perguntas, como: Existe fundamento bíblico para o divórcio? A Bíblia conclama à reconciliação os cônjuges separados? Em quais circunstâncias o novo casamento é bíblico?
Lindsay também aborda questões pertinentes à vida conjugal, de modo que os leitores tratem as feridas emocionais provocadas pela convivência a dois e evitem problemas que podem levar à separação. De acordo com o autor, a importância de abordar esses assuntos está no fato de que a saúde física e mental das pessoas casadas pode ser abalada pelos conflitos conjugais. Há bastante tempo, aqueles que se dedicam ao ministério da cura veem claramente que a saúde dos cônjuges, frequentemente, tem uma relação específica com o bom ou mau ajustamento entre eles no relacionamento conjugal. Todos os tipos de frustrações, doenças mentais e neuroses se avultam como resultado de uma relação que se tornou enferma. Como consequência, quem ora pela cura de tais pessoas lida com os resultados mais do que com as causas.
(Fonte: Graça Editorial)
2 Comments
Muito legal essa revista
Caro leitor, ore por nós, para que possamos fazer, mês a mês, edições que ajudem a fazer crescer o Evangelho no Brasil.