Falando de História – 252
01/07/2020Comportamento
01/08/2020O IDE DE JESUS
Pesquisa aponta que muitos cristãos desconhecem o que é a Grande Comissão
Por Ana Cleide Pacheco
Após Sua ressurreição, Cristo deu a seguinte ordem: Ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado (Mt 28.19,20a − ARA). A passagem é conhecida como a Grande Comissão ou como Ide. Por meio desses versículos de Mateus – e de outros similares, como Marcos 16.15, Lucas 24.47 e João 20.21 –, o Senhor deixa clara a incumbência confiada à Igreja de realizar o trabalho missionário em todas as regiões da Terra.
No entanto, um levantamento feito nos Estados Unidos pelo instituto de pesquisas Barna Group mostrou que 51% daqueles que frequentam regularmente um templo evangélico não sabem o que é a Grande Comissão. Um em cada quatro entrevistados (25%) ouviu falar do assunto, mas não conhecia o significado exatoda expressão, e apenas 17% tinham certeza do que se tratava.
De acordo com a sondagem, o desconhecimento dessa ordenança fundamental dada ao Corpo de Cristo se deve à falta de atividades evangelísticas em várias congregações. Segundo George Barna, fundador do instituto de pesquisas e responsável pela condução da análise, as igrejas estão usando menos essa expressão, o que revelaria a falta de prioridade ou de foco das comunidades cristãs na tarefa de pregar a Palavra. Um estudo anterior, do Instituto Americano de Cultura e Fé (ACFI, a sigla em inglês), divulgado em dezembro de 2017, sinalizava o mesmo problema: apenas 21% dos cristãos entrevistados criam que a pregação do Evangelho é uma responsabilidade pessoal.
Para o Pr. Renato Vargens, da Igreja Cristã da Aliança, em Niterói (RJ), os resultados não seriam os mesmos se as investigações tivessem sido no Brasil. Em sua opinião, a maioria das igrejas em território nacional se preocupa com questões evangelísticas. Por isso, o pastor acredita que todos os que se dizem crentes em Jesus já ouviram falar, leram ou conhecem versículos que se referem à Grande Comissão.
Contudo, boa parte dos cristãos de nossa nação, alerta Vargens, pensa no Ide como algo relacionado aos apóstolos ou, nos dias de hoje, especificamente, a pastores, líderes, missionários e evangelistas – um equívoco, em seu ponto de vista. “Pregar o Evangelho e fazer discípulos é uma ordem do Mestre à Igreja. Desse modo, os cristãos têm a obrigação de anunciar as Boas-Novas aos que estão perdidos em seus delitos e erros, falando-lhes que só é possível ter vida eterna por intermédio de Jesus Cristo, o qual morreu na cruz do Calvário pelos pecados da humanidade”, frisa Vargens, assinalando que as Escrituras Sagradas ensinam que as Boas-Novas precisam ser propagadas pelos servos de Jesus onde quer que estejam: nas universidades, nas escolas, nos locais de trabalho.
“Termo específico” – No texto do instituto Barna Group, também foi demonstrado que a Grande Comissão é mais conhecida entre os mais velhos. Pouco mais da metade dos entrevistados (51%) que ignoram o significado dela tem menos de 25 anos. Para os estudiosos, essa seria uma evidência de que a ordem do Messias não está sendo obedecida por muitos norte-americanos nem aprendida pelos mais novos.
O Pr. Valtair Afonso Miranda, da Igreja Batista Itacuruçá, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), a exemplo do Pr. Renato Vargens, não crê que esse fenômeno registrado nos Estados Unidos ocorre no Brasil, ou, pelo menos, não na Igreja evangélica como um todo. Ele cita a Convenção Batista Brasileira (CBB), à qual está filiado, que possui duas agências voltadas para a evangelização, uma em âmbito nacional e outra, internacional. Ambas promovem campanhas anuais de divulgação de seus trabalhos missionários e transmitem os resultados desses esforços para os cristãos das igrejas ligadas à CBB, em meses diferentes do ano. “Isso significa que, em dois períodos anualmente, os membros recebem informações ou assistem a pregações sobre missões, o que envolve a Grande Comissão como ponto de partida”, exemplifica.
O pastor acentua que alguns desconhecerem o termo nada tem a ver com a falta de compromisso evangelístico. Para ele, ignorar o significado da expressão não impede o cristão de espalhar a Boa Notícia. “A Igreja foi fundada por Jesus a fim de se desenvolver no mundo, o que consiste em, continuamente, pregar o Evangelho e salvar pessoas. À medida que elas são redimidas, a Grande Comissão está em operação. E, para isso acontecer, não é necessário conhecer um termo específico.”
O professor de Teologia Cleison Brügger de Oliveira, presbítero da Assembleia de Deus em Senador Vasconcelos, na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), assim como o Pr. Valtair, acha que não alcançar a expressão não interfere na disposição do cristão para evangelizar. “O ímpeto evangelístico deve estar em todo cristão, que talvez não possa ir à África fazer missões, mas, certamente, pode ir até a esquina ou ao vizinho da frente”, afirma. Brügger salienta que muitos confundem a tarefa de fazer missões com viajar a determinado país longínquo, quando, na verdade, o cumprimento do Ide se dá em qualquer lugar.
Ainda de acordo com ele, é importante o crente ter investidura espiritual, porque o elemento humano, por si, não consegue convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), atribuição exclusiva do Espírito Santo. “Logo, o poder do Espírito é a capacitação para o sucesso da Grande Comissão. Ele é crucial para executarmos a obra evangelizadora. Isso está nítido no livro de Atos. Primeiro, os cristãos foram cheios do Espírito e, depois, foram enviados às nações.”
Princípio bíblico – O cumprimento doIde é ressaltado pelo Pr. Marco Antônio Pereira, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Sítio Cercado, em Curitiba (PR). “A Grande Comissão tem como premissa ir e fazer discípulos. Isso deve ser algo natural”, destaca o líder, acrescentando que levar pessoas a Cristo não pode ser uma tarefa dependente de um calendário de eventos eclesiásticos. Ela é tão essencial que precisa estar inserida no estilo de vida do cristão. “Afinal, falar do Senhor e de Seu amor deve ser comum em nosso ambiente de trabalho, em nossos momentos de lazer, como viagens.”
Para o ministro, as igrejas podem ter uma agenda de programações e atividades com ênfase na pregação do Livro Santo e na prática do discipulado. Ele reitera que não há nada de errado nisso, no entanto lembra que tais eventos são parte de um processo. “A ordem de Jesus é que façamos discípulos na caminhada”, enfatiza Pereira, sublinhando que não é necessária qualquer formação acadêmica para apresentar a Palavra de Deus aos necessitados.
O discípulo, afirma o pastor, não é apenas membro de uma igreja evangélica, mas também alguém capacitado pelo Todo-Poderoso, que conhece a verdade, obedece ao Criador e conduz outros indivíduos a Ele. “O Senhor mandou levarmos pessoas à Sua presença e torná-las discípulas a fim de alcançarem a maturidade espiritual. Assim, a Igreja cresce em graça e sabedoria, não apenas em número.”
Todos os lugares – O evangelista Gladistone Leandro Dias, da Igreja Evangélica Deus do Impossível, em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), frisa que os cristãos brasileiros, de modo geral, sabem o que é o Ide do Senhor. “Eles têm consciência de que essa é a missão da Igreja: apresentar o Salvador ao perdido.” Tal entendimento, evidencia ele, faz com que seja imprescindível o cristão viver em santidade em toda parte. “Nosso testemunho passa a ser a porta de entrada para a evangelização e para o discipulado, pois nossa vida é o primeiro evangelho que o mundo lê. Isso é o Ide.”
O Pr. Otoni de Paula, da Assembleia de Deus Ministério Despertando Vidas, em Inhaúma, zona norte carioca, concorda com Gladistone Dias. Ministro da Palavra há 44 anos, ele destaca que a evangelização pode ser dinâmica e elogia as iniciativas que têm surgido na internet, porém acentua que as atividades realizadas no mundo virtual jamais terão os mesmos efeitos dos encontros reais na congregação. “A tecnologia é uma bênção, entretanto não substitui o olhar nos olhos, o apertar das mãos, e acredito, sinceramente, que isso deve ser observado pela Igreja de Cristo.”
Para Otoni de Paula, a Igreja precisa sair às ruas pregando as Boas-Novas e testemunhando a fé cristã. Ele salienta, contudo, que, para essas ações darem resultado, as comunidades eclesiásticas devem investir no ensino. “Dessa forma, não tenho dúvidas de que o Evangelho continuará crescendo. Muitos ouvirão a Palavra de Deus e irão se converter ao Seu amor. Afinal de contas, fomos comissionados para falar do amor dEle”, conclui.