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15/01/2025
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ESPERANÇA AOS ENCARCERADOS

Capelães pregam a Palavra de Deus, consolam e aconselham os detentos

Por Daniele Vieira*

Atualmente, o Brasil é o terceiro país com a maior população carcerária do mundo. No ranking mundial, só ficamos atrás dos Estados Unidos (1,76 milhão) e da China (1,69 milhão), segundo o World Prison Brief, levantamento mundial do Institute for Crime and Justice Research e da Birkbeck University de Londres. Em território brasileiro, considerando as celas físicas, pessoas em prisão domiciliar ou sob monitoramento eletrônico, o número de indivíduos com restrição de liberdade chega a 888 mil (663.908 nos presídios), de acordo com o Levantamento de Informações Penitenciárias da Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN) de outubro de 2024. A maioria dos detentos (96%) é composta por homens.

O advogado e pastor Romerito Oliveira da Encarnação, ao falar do ofício do capelão: “Em alguns estados da federação, há, na verdade, uma assistência social e espiritual, porque essas duas necessidades são contempladas, compreendendo a natureza múltipla do ser humano”
Foto: Arquivo pessoal

Em meio a esses dados, que representam um gigantesco desafio, surge a capelania prisional para atuar como um elo de esperança e transformação, a partir da Palavra de Deus, dentro de um ambiente marcado por adversidades. A atividade é reconhecida pela Lei nº 9.982, de 14 de julho de 2000, que assegura a assistência religiosa em estabelecimentos prisionais, independentemente da crença. Anteriormente, desde 1988, a Constituição já estabelecia, no artigo 5º, parágrafo VII, o direito à assistência religiosa nas instituições civis e militares de internamento coletivo. Em 2002, a Portaria nº 397, do Ministério do Trabalho e Emprego, inseriu o cargo de capelão na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO 2631-05), fortalecendo a legitimidade e a relevância dessa função, que é essencialmente espiritual, voltada a levar o consolo às pessoas que enfrentam momentos de necessidade. “São muitas demandas e carências. Em alguns estados da federação, há, na verdade, uma assistência social e espiritual, porque essas duas necessidades são contempladas, compreendendo a natureza múltipla do ser humano”, explica o advogado e pastor Romerito Oliveira da Encarnação, que participa dos seminários de Capacitação e Assistência Socioespiritual às Pessoas Privadas de Liberdade, um treinamento direcionado a voluntários que prestam esse apoio religioso nas unidades prisionais.

A Pra. Ivone Dias explica que o capelão leva o cristianismo para fora da igreja, alcançando, assim, os perdidos onde quer que estejam: “Muitos detentos aguardam, com grande expectativa, a presença do capelão. Em alguns casos, é a única visita que recebem”
Foto: Arquivo pessoal

“Esperança viva” – Na visão da Pra. Ivone Dias, coordenadora e instrutora do curso de Capelania Cristã da Academia Teológica da Graça de Deus (Agrade) no Rio de Janeiro (RJ), o ofício do capelão representa levar o cristianismo para fora da igreja, alcançando, assim, os perdidos onde quer que estejam. Para ela, trata-se de um campo fértil para a pregação do Evangelho. “Muitos detentos aguardam, com grande expectativa, a presença do capelão. Em alguns casos, é a única visita que recebem”, afirma a pastora. Ela ressalta que esse serviço é um aliado do Estado no processo de reeducação e ressocialização dos presos, uma vez que contribui para a restauração de vidas. “Esse ministério é essencial. Seu principal objetivo é plantar a semente da Palavra no coração das pessoas, promovendo, de maneira sobrenatural, a esperança viva na fé em Deus”, explica. A ministra assegura que o capelão, por ser um agente do Senhor, deve se manter vigilante, em constante oração, dedicado ao trabalho e sensível ao Espírito Santo. “Como representante de Cristo, essa pessoa precisa exercer o ministério sem discriminar ninguém devido ao sexo, à cor, à idade ou à religião, sempre focado na missão de confortar e consolar os aflitos, independentemente de quem sejam.” [Leia, no final desta reportagem, o quadro Agentes de transformação]

Foto: Cavan for Adobe / Adobe Stock

Para apoiar esse trabalho e atender à gran­de demanda por materiais bíblicos nas prisões, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) desenvolve, desde 2021, a campanha Um Belo Dia para Recomeçar. “Culpa e perdão, justiça e injustiça, medo e consolo, dúvida e orientação são questões comuns na vida dos presos, e as Escrituras têm uma palavra específica para cada uma dessas situações”, frisa o diretor-executivo da SBB, o Rev. Dr. Erní Walter Seibert, destacando que a restrição da liberdade é um castigo enorme para qualquer pessoa.

O Rev. Dr. Erní Walter Seibert, diretor-executivo da SBB, pontua que a capelania prisional “é uma área ministerial bastante especial que nem sempre conta com pessoas suficientes para atuar”
Foto: Arquivo pessoal modificada por IA

Seibert esclarece que executar esse trabalho junto aos internos exige do capelão muito preparo espiritual e as devidas licenças (autorizações) para que ele tenha acesso ao presídio. O diretor da SBB acrescenta que é necessário estudar as Escrituras Sagradas tendo em mente esse contexto diferenciado e ter dom e habilidade para desenvolver a atividade, conforme cada caso. “É uma área ministerial bastante especial que nem sempre conta com pessoas suficientes para atuar.”

Foto: Arte sobre foto de Jayda_ArtistryHub / Gerada com IA – Adobe Stock

Além da evangelização – Ao contrário do que muitos pensam, a capelania não se resume à realização de cultos, apesar de ser esta a estratégia mais adotada pelos capelães, ressalta Antônio Carlos Junior, doutor em Ciências da Religião e coordenador de um curso de Capelania, Direito e Religião em Juiz de Fora (MG). “Vai muito além do evangelismo. A capacitação é essencial e, por isso, é fundamental estudar e aprender com quem entende do assunto”, avalia ele, esclarecendo que, em meio àquele ambiente hostil, equipes despreparadas certamente vão prejudicar a ação. Ele pontua ainda que o capelão precisa ter profundo conhecimento bíblico e compreender as regras, as dinâmicas e as particularidades de cada presídio. “Existem diferenças entre os regimes de cumprimento de pena, e é primordial saber, por exemplo, se há facções atuando, e considerar se o ambiente é masculino ou feminino”, detalha Antônio Carlos, assinalando que essas informações básicas impactam diretamente no serviço do capelão, que precisa estar preparado para lidar com situações adversas.

O cientista religioso Antônio Carlos Junior afirma que a atividade do capelão prisional vai muito além do evangelismo: “A capacitação é essencial e, por isso, é fundamental estudar e aprender com quem entende do assunto”
Foto: Arquivo pessoal

De acordo com Antônio Carlos Junior, há também alguns desafios a vencer, como a desconfiança e o preconceito por parte de algumas administrações penitenciárias, que, muitas vezes, não acreditam na capacidade de reabilitação do preso. “A maioria dos detentos é recuperável. São pessoas comuns que cometeram crimes em diferentes circunstâncias da vida”, observa ele, ponderando que esses indivíduos necessitam do apoio do capelão e da igreja para que, “ao deixarem a prisão, tenham uma chance real de reintegração à sociedade de maneira positiva, evitando que retornem ao crime ainda mais impactados pelo sistema prisional”.

O Pr. Sérgio Junger, diretor do Instituto de Capelania Cristã em Vitória (ES), concorda com Junior e reforça que o trabalho do capelão consiste em acolher, ouvir, orar e compartilhar momentos com os detentos. “O Evangelho deve ser apresentado de modo ordeiro, sem excessos, sem pedir nada em troca, apenas anunciando os ensinamentos do Senhor”, explica Junger, enfatizando que, nessas ações dentro do presídio, é necessário ser conhecedor e praticante dos frutos do Espírito demonstrando amor, gentileza e acessibilidade.

O Pr. Sérgio Junger reforça que o trabalho do capelão consiste em acolher, ouvir, orar e compartilhar momentos com os detentos
Foto: Arquivo pessoal

Ferramenta de reabilitação – Há anos no ministério de capelania, o Pr. Denys Deivison, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Tibiri, na cidade de Santa Rita (PB), já distribuiu mais de mil exemplares da Bíblia em quatro unidades prisionais da Paraíba. “Nenhum contexto é pior do que estar em um presídio”, opina o ministro. Ele afirma que, por causa do tempo ocioso, os presos estão mais suscetíveis e dispostos a ouvir a pregação do Evangelho. “É uma grande oportunidade para eles fazerem uma retrospectiva de vida, um momento de reflexão. As pessoas ali estão sedentas e com fome da Palavra.”

O Pr. Denys Deivison, ao falar da questão da pregação do Evangelho aos presos: “É uma grande oportunidade para eles fazerem uma retrospectiva de vida, um momento de reflexão. As pessoas ali estão sedentas e com fome da Palavra”
Foto: Arquivo pessoal

Segundo Deivison, o abandono familiar faz aumentar o drama e as dificuldades dos encarcerados. “Muitos deles necessitam de uma rede de apoio adequada que os auxilie a vencer os obstáculos”, diz o pastor. Ele enfatiza que, por essa razão, a assistência religiosa – uma ferramenta de reabilitação dos presos – realizada pelos capelães requer cautela, fé, resiliência, amor ao próximo e ensinamento bíblico. “Somente Jesus é capaz de recuperar o indivíduo, que passa a ter uma vida regrada. Assim, essa pessoa pode ser perdoada por Deus e, consequentemente, pela sociedade”, salienta Denys, que atua em sete presídios, onde há a pregação da mensagem da cruz e até mesmo a realização de batismos nas águas para novos convertidos. “De um modo geral, os presos são receptivos à abordagem do capelão e dão credibilidade ao que é ministrado.”

O pastor e capelão Walter Isaac acha importante também ouvir os relatos de arrependimento e renovação espiritual dos presos: construção de um futuro
Foto: Reprodução / Instagram

Além da pregação, há quem defenda a importância de ouvir dessas pessoas seus relatos de arrependimento e renovação espiritual. É o que pensa o pastor e capelão Walter Isaac, presidente do Ministério Gerar Brasil, para quem os testemunhos de conversão evidenciam uma mudança de vida para a construção de um futuro. “Fazemos a nossa parte, com a visão de Reino de Deus. Não há placas de igreja, só a vontade de cumprir o texto de Hebreus 13.3: Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo.”


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