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Por Marcelo Santos
Em um cenário profissional cada vez mais competitivo e exigente, evangélicos enfrentam o desafio de manter a fé ativa em meio às pressões do ambiente corporativo. Entre metas agressivas, cobranças constantes e dilemas éticos, a leitura da Palavra e a oração têm se tornado pontos de apoio fundamentais para profissionais que desejam alinhar desempenho e integridade. A busca por equilíbrio entre os afazeres do trabalho e a vivência espiritual levanta questões sobre como manter os valores cristãos no emprego e quais estratégias precisam ser adotadas pelos evangélicos para lidar com os conflitos entre as ordenanças bíblicas e a rotina empresarial. Para saber como os crentes em Jesus encaram esses desafios, Graça/Show da Fé ouviu especialistas e pastores a fim de reunir orientações que contribuam para a construção de ambientes corporativos mais saudáveis, pautados nos valores do Evangelho.

Foto: Marcelo Santos
Fundador do Instituto de Pesquisas do Risco Comportamental (IPRC) e um dos principais especialistas do país em gestão de pessoas e investigação de comportamentos que colocam em risco empresas e carreiras, o professor e pesquisador Renato Santos acredita que a fé evangélica apresenta diretrizes claras sobre amar o próximo, o que impacta diretamente as decisões no ambiente de trabalho. “Isso significa que não podemos ofender ou prejudicar ninguém”, afirma ele, destacando que esse princípio se aplica tanto ao assédio moral e sexual – que afeta pessoas – quanto às fraudes, que prejudicam empregadores e organizações.

De acordo com Renato, os valores básicos do Evangelho funcionam como um mecanismo de proteção contra atitudes antiéticas, como discriminação e corrupção. Além disso, o professor, que frequenta a Igreja Batista Capital, em Brasília (DF), lembra que a busca por uma crença saudável pode ser um ponto de equilíbrio diante das pressões do mundo corporativo. “Começo o dia focado na vida espiritual, com aproximação de Cristo em meu momento devocional”, testemunha Santos, ponderando que esse hábito fortalece a coerência ética nas relações profissionais, servindo como um freio para impulsos negativos. Para o fundador do IPRC, diante de estatísticas tão alarmantes – segundo as quais 70% das empresas sofrem fraudes, além de existirem inúmeros casos de assédio moral –, é preciso reforçar o fato de que a fé pode transformar indivíduos e influenciar positivamente as decisões no trabalho. “Se a pessoa pensar o que Cristo faria, isso já seria um limitador para comportamentos inadequados”, frisa.

Foto: Arquivo pessoal
Orientação bíblica – Diversos estudos de universidades brasileiras se debruçam sobre a influência da religiosidade no comportamento dos trabalhadores. Muitos concluíram que a crença em Cristo não se limita ao espaço privado, mas se manifesta nas amizades, nas práticas organizacionais e até na honra profissional das pessoas. Em um dos levantamentos, intitulado A presença da religiosidade no ambiente de trabalho: um estudo de caso, de Gláucia Tristão Pupim, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), observou-se que orações coletivas, adesivos com versículos bíblicos e menções frequentes às Escrituras aparecem como práticas recorrentes nos locais de trabalho. Além disso, segundo Gláucia, alguns funcionários relataram que a fé influencia a postura diante de desafios profissionais, conforme ilustrado em um depoimento citado na tese: As pessoas até me perguntam como eu consigo ter um comportamento tão calmo. Porque a Bíblia diz muito claro […] a gente acaba aprendendo a padecer e a ser participante desse sofrimento. Em outra pesquisa, que trata de atividades religiosas nas organizações e do comprometimento organizacional, Arménio Rego, Miguel Pinha e Cunha e Solange Souto demonstram que grupos religiosos, especialmente evangélicos, tendem a valorizar fortemente o sentido de comunidade e o alinhamento de valores como princípios fundamentais de suas atividades laborais.

Foto: Arquivo pessoal
Na opinião do empresário e administrador de empresas Claudio Ferreira do Amarante, ética e integridade não são apenas conceitos, e sim atitudes que devem guiar o trabalhador mesmo quando não há supervisão, como escreve o apóstolo Paulo aos Efésios (Ef 6.5-7). “O que nos é ensinado pela fé cristã reverbera em todo meio no qual estamos inseridos”, pontua Claudio, autor do livro independente Evangélicos no mercado de trabalho, resultante de sua tese de Pós-Graduação em Pedagogia do Trabalho, pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Evangélico há 32 anos, ele acompanha, há décadas, a relação entre religiosidade e ambiente corporativo, em especial no que se refere às pressões por resultados e aos problemas constantes. Claudio observa que a fé pode ser um suporte emocional essencial para manter a serenidade e agir com sabedoria. “O cristão que busca estudar e aplicar a Palavra de Deus encontrará nela uma base para superar os desafios do mundo organizacional”, garante o membro da Missão Evangélica União Cristã (MEUC), em Joinville (SC).
Para Claudio, embora o conhecimento técnico seja fundamental, as habilidades socioemocionais, como resiliência e equilíbrio emocional, têm se tornado diferenciais cada vez mais valorizados pelas empresas. Ele afirma que, nesse sentido, a oração e a comunhão com os irmãos ajudam a desenvolver um espírito de cooperação capaz de enfrentar os obstáculos do dia a dia no ambiente corporativo. Entretanto, o empresário observa que a fé também impõe desafios, principalmente tratando-se de um mercado que, por valorizar mais os resultados, testa diariamente os princípios de integridade do indivíduo. “As tentações do lucro fácil poderão vir, mas o cristão tem todas as ferramentas para se manter íntegro”, alerta Amarante, finalizando com uma mensagem aos empregadores e empregados: “Quando tudo é feito para a glória de Deus, muitos problemas são evitados e há um ambiente de paz e respeito”.

Foto: Marcelo Santos
Visão espiritual – Seguindo a mesma linha de raciocínio, a Pra. Juliana Viana, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Goiás, sublinha que a fé cristã tem um impacto direto na atuação profissional, influenciando a conduta e o testemunho no local de trabalho. Por isso, segundo ela, o crente em Jesus deve refletir sua fé por meio de atitudes que demonstrem ética, comprometimento e responsabilidade. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus (Mt 5.16), cita a pastora, assinalando que o comportamento exemplar no trabalho – e a demonstração dos valores bíblicos – também podem ser uma forma de evangelização. “O profissional cristão que agir com retidão e honestidade naquilo que desempenha terá bons resultados”, assegura, ressaltando que a fé firmada na Palavra é um antídoto contra propostas indevidas, como desvios e corrupções. “Se o indivíduo estiver unido ao Senhor, ele se desviará do mal”, explica ela, mencionando Provérbios 14.16: O sábio teme e desvia-se do mal, mas o tolo encoleriza-se e dá-se por seguro.

Foto: Marcelo Santos
O Pr. Fábio Joaquim, líder regional da IIGD na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo (SP), concorda com a Pra. Juliana. Ele frisa que a fé em Jesus leva o cristão a agir com correção e integridade em sua vida profissional, uma vez que o temor a Deus e à Sua Palavra orienta as decisões do servo do Senhor. Para o ministro, a realização na carreira não deve ser apenas uma procura pelo sucesso financeiro ou por uma boa posição no mercado, mas uma oportunidade de glorificar ao Pai. “O profissional, além de buscar crescimento, deve ter como principal propósito engrandecer o Nome de Jesus com sua trajetória, rendendo-Lhe toda honra e glória”, ressalta. O Pr. Fábio lembra ainda que a Bíblia é um manual divino de promessas, orientações e conselhos que, quando seguido, molda o caráter e transforma o indivíduo. Citando João 3.30 (É necessário que ele cresça e que eu diminua), ele reforça a importância de as pessoas colocarem o Senhor no centro de todas as áreas da vida, enfatizando que a comunhão com o Altíssimo fortalece o cristão para lidar com tentações no ambiente de trabalho. “Uma pessoa que permite esse aperfeiçoamento pela Palavra se torna ética e íntegra em suas atividades, tanto pessoais quanto profissionais”, declara o ministro. Ele acrescenta que as pressões diárias podem ser superadas pela confiança em Cristo: “A busca por uma comunhão plena com o Todo-Poderoso capacita o cristão a resistir a propostas corruptas. Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo (2 Co 5.17)”.
Indagada sobre o assunto, a Dra. Izabela Frota Melo, Procuradora-Chefe de Gestão Estratégica, Estudos e Inovação (PROGEI/PGDF), enxerga a fé cristã como base e guia em todas as áreas da vida, inclusive na atuação profissional. “É como a agulha de uma bússola que me orienta nas escolhas diárias”, compartilha ela, assinalando que o exercício de um cargo público exige não apenas conhecimento jurídico e estratégia, mas também humildade – uma virtude que encontra em Cristo. “Jesus veio para servir, e não para ser servido”, acentua a doutora, salientando a importância do serviço para o Estado e para o cidadão e da consciência de que o poder conferido deve ser usado para o bem coletivo. “É um dos pilares de minha atuação, fundamentada no respeito ao próximo e no compromisso com o interesse público. Somos pessoas, não engrenagens da máquina pública.”

De acordo com Izabela Melo, os valores cristãos se manifestam por meio do testemunho diário, colocando em prática o que é ensinado por Cristo, por exemplo, no sermão da montanha (do capítulo 5 ao 7 do evangelho de Mateus). “São princípios inegociáveis”, enfatiza ela, deixando claro que, para manter esse compromisso, é essencial ter uma estreita e equilibrada comunhão com o Senhor. “Ainda preciso muito da ação do Espírito Santo para colocar meu mundo interior em ordem, mas tenho convicção de que não superaria os desafios diários do setor público sem olhar para dentro e buscar essa força”, garante a procuradora, que frequenta a Igreja Batista Capital, em Brasília (DF). “O vigor que vem de Deus é o único inesgotável. Essa força me permite enfrentar dificuldades com altivez, criatividade e serenidade”, conclui a servidora pública. Para ela, assim como para os demais entrevistados desta reportagem, o trabalho não é apenas uma forma de sustento, mas também uma maneira de servir a Deus e ao próximo.