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Por Evandro Teixeira
No universo musical, muitos artistas entram para a história por conquistar o sucesso dentro e fora de seu país. Em entrevistas, é comum compartilharem a trajetória deles desde o anonimato até a fama. Não é raro que alguns, ao exporem suas experiências, mencionem que iniciaram na igreja. Um exemplo emblemático é a saudosa Whitney Houston (1963-2012). Filha da cantora gospel Cissy Houston (1933-2024), ela foi naturalmente influenciada a seguir o mesmo caminho da mãe. Durante a infância e a adolescência, Whitney cantou na New Hope Baptist Church, em Nova Jersey (EUA), onde desempenhou os papéis de solista e coralista. Outro nome de destaque, a cantora Beyoncé, 43 anos, começou no coro da Igreja Metodista Unida de St. John, em Houston (EUA). Inspirada por esses e tantos outros exemplos que fazem parte da história da música cristã em todo o mundo, a redação de Graça/Show da Fé pesquisou mais a respeito do papel da Igreja na formação dos cantores, em busca de opiniões e informações sobre a importância dos corais cristãos na qualificação vocal dos artistas.

Foto: Rodrigo Di Castro / Graça Music
O cantor, compositor e produtor musical Ronaldo André, que integra o cast da Graça Music, cresceu musicalmente na igreja. Aos 13 anos, ele se converteu ao Evangelho e, aos 16, iniciou sua carreira como guitarrista de uma banda, construindo uma trajetória que reafirma a importância da música cristã no desenvolvimento profissional. Sobre esse processo, Ronaldo mostra a relevância do trabalho das congregações no auxílio àqueles que não dispõem de recursos para aprimorar suas habilidades musicais. “As comunidades evangélicas possibilitam o acesso mais fácil aos equipamentos necessários para a capacitação de quem deseja atuar nesse meio, como instrumentos, microfones e aparelhagem de som.” Ele também realça que o talento para a música deve ser visto como um dom dado pelo Senhor: “As experiências na casa de Deus servem para aprimorar a pessoa,” completa. Para o cantor, quando artistas renomados reconhecem que seus primeiros passos foram dados em um ambiente cristão “constata-se que as comunidades evangélicas foram e continuam sendo um bom celeiro musical.”

Foto: Arquivo pessoal
Geração de cantores – Opastor e compositor Atilano Muradas também reconhece que a música cristã tem um papel primordial na formação profissional de artistas. Contudo, lamenta que tenham diminuído os espaços destinados à qualificação musical nos templos: “Há pouco tempo, diversas comunidades evangélicas contavam com corais, quartetos e solistas. Hoje, em muitos casos, o tempo dedicado à música no culto se resume a uma banda tocando os hits do momento”, nota o pregador, que faz parte do Ministério Sonho de Deus, em Taubaté (SP). Na opinião dele, a Igreja é a principal prejudicada por essa redução, já que as gerações atuais de cristãos não estão sendo incentivadas a preparar novos cantores.
Também professor de música, Muradas acentua que, apesar dessa realidade, as igrejas continuam tendo muitos crentes talentosos e ressalta que dificilmente há pessoas desafinadas na casa de Deus, porque o canto faz parte dos cultos semanais. No entanto, o ministro pondera: “Houve uma queda significativa na qualidade da música cristã, uma vez que as composições estão menos elaboradas.” Tratam-se, analisa ele, de criações influenciadas diretamente pelo nível cultural e musical dos novos compositores, os quais buscam referências em um meio com inúmeros recursos tecnológicos.

Foto: Arquivo pessoal
Muradas ratifica que ainda existem bons profissionais e recorda que, em um panorama de crise econômica, não há como desprezar o fato de que os aspectos financeiros da carreira não são favoráveis: “As novas formas de propagação das canções não dão ao artista o retorno esperado”, salienta, referindo-se à divulgação das composições por meio de plataformas digitais, como Spotify e Deezer. Em razão dessa transformação no mercado, o número de jovens interessados pela carreira musical caiu drasticamente. “Quem perde é a sociedade, que passa a ter menos artistas qualificados,” conclui.
O pastor e ministro de música Rafael Santos, do Projeto Vida Nova de Irajá, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), alerta que essa diminuição da qualidade não aconteceu apenas no meio cristão, mas também no cenário musical brasileiro de modo geral. No entendimento dele, o uso de tecnologias avançadas desestimula o estudo e a busca da qualidade musical. Ele frisa que os cultos, na contramão das facilidades tecnológicas, tendem a estabelecer a cultura de ouvir canções e louvar, segundo a própria liturgia da congregação. Por isso, concorda ser necessário criar mais escolas de música com aulas presenciais. “Ter esse tipo de educação é essencial para a formação do músico cristão que deseja servir ao Senhor com excelência”, comenta.

Foto: Arquivo pessoal
Espaço dos corais – Bacharel em Regência Orquestral pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ronaldo Almeida da Silva afirma que atualmente os corais têm menos espaços nas igrejas, e aqueles que subsistem conseguiram manter suas atividades nas denominações históricas. Em regra, essa formação vocal tem sido deixada de lado, e esse espaço está sendo majoritariamente ocupado por grupos de louvor. “Com frequência, os corais só participam de eventos especiais, como culto de Páscoa e Natal.”
Para o regente, membro da Assembleia de Deus em Bonsucesso, na zona norte carioca, esses grupos constituem uma oportunidade de enriquecimento das reuniões. Ele cita que o rei Davi se preocupava com a organização da música e, por isso, elegeu pessoas capacitadas para conduzir cânticos e celebrações coletivas, conforme registra 1 Crônicas 25.1: E Davi, juntamente com os capitães do exército, separou para o ministério os filhos de Asafe, e de Hemã, e de Jedutum, para profetizarem com harpas, e com alaúdes, e com saltérios. Por tal razão, considera que fazer parte de um coral dá ao indivíduo uma sólida formação musical. “Cantar de maneira harmonizada com outros coristas do mesmo naipe vocal, criando um timbre único e conjunto, é uma experiência que enriquece e aprimora qualquer cantor,” opina Silva.

Foto: Arquivo pessoal
Visão similar tem o bacharel em Música Sacra e regente de coral Thiago Martins Nascimento, membro da Igreja Batista Itacuruçá, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro (RJ). Para ele, o canto coral requer uma dedicação e uma percepção diferente, porque exige o trabalho de vários aspectos importantes para que ocorra a execução musical. “Essas exigências deixam o cantor mais completo em outras áreas musicais”, explica, citando o exemplo de destaque no meio evangélico The Brooklyn Tabernacle Choir, grupo pertencente à Igreja Evangélica Brooklyn Tabernacle, em Nova Iorque (EUA). “Hoje, já não tem mais as características de um grande coral, pois reduziu significativamente o número de coralistas”, lamenta.

Investimento e valorização – Líder do ministério de louvor na Nova Igreja em Ipanema, zona sul carioca, o Pr. Benedito Carlos Gomes sustenta que as igrejas devem buscar o aprimoramento das técnicas musicais, a fim de dar maior qualidade ao momento de louvor e adoração ao Senhor. Entretanto, deixa claro que a procura pela excelência vocal não pode substituir a unção do Espírito Santo. Além disso, ele entende que a valorização desse ministério dependerá do quanto a liderança se importa com o tema. “Se for músico, o líder estará mais inclinado a melhorar essa área”, avalia o pastor, lembrando que o envolvimento dos membros da congregação com a música deve começar na infância. “É importante dar espaço para que as crianças despertem seus dons musicais em um ambiente que lhes seja favorável”, sugere, frisando que os adolescentes também devem receber esse apoio. Por fim, Gomes defende que a abertura de escolas de música cristã é uma boa ideia, desde que acompanhada de uma estrutura adequada e uma administração qualificada.

Foto: Arquivo pessoal
A cantora Kelly Benigno, que faz parte do cast da Graça Music desde 2017, avalia que as igrejas devem buscar aprimorar a música cristã. Entretanto, relata que, devido aos altos custos demandados em projetos como esse, nem todas as comunidades evangélicas têm condições de oferecer uma estrutura de qualidade para o ministério musical. Porém, aconselha a quem deseja ser músico a se manter na luta e não abrir mão desse sonho: “Um dos caminhos para buscar aperfeiçoamento é acessar conteúdos disponíveis nas plataformas digitais e nos aplicativos, os quais facilitam o processo de aprimoramento”, diz Kelly.

Foto: Divulgação / Graça Music
De acordo com ela, investir na música fortalece o ministério de louvor de uma igreja, a qual deve demonstrar interesse de apresentar a melhor musicalidade ao Senhor. Kelly ressalta que a música constitui parte importante da obra de evangelização, porque uma composição de qualidade consegue ultrapassar o espaço cristão e alcançar pessoas em diferentes contextos sociais. A cantora também acredita ser fundamental investir em novos talentos: “Eles podem ascender dentro do ministério e ampliar ainda mais a obra de Deus”, sugere, avaliando que não há dúvidas acerca da relevância da música cristã na formação de cantores. Em razão disso, a Igreja deve assumir um papel ativo na qualificação desses artistas que, por meio de canções, difundem as Boas- -Novas, tocam corações e mentes e proporcionam alegria, esperança, paz e alívio às almas aflitas.
