Entrevista – 293
22/12/2023Vida Cristã
30/01/2024Em busca de Cristo
Pesquisa revela que grande parte dos adolescentes brasileiros está receptiva à mensagem do Evangelho
Por Patrícia Scott*
Os adolescentes brasileiros querem conhecer Jesus. Foi o que revelou uma pesquisa mundial realizada pelo Grupo Barna, empresa norte-americana especializada em análises relacionadas ao meio cristão. O levantamento Open generation (Geração aberta, em tradução livre) ouviu mais de 25 mil adolescentes com idades de 13 a 17 anos em 26 países. O relatório da sondagem afirma que o objetivo da enquete é oferecer aos líderes cristãos informações que os ajudem a compreender a nova geração e alcançá-la para Cristo.
O estudo mostrou que a maior parte dos adolescentes ao redor do mundo, independentemente de religião, admira Jesus por Sua compaixão, Seu perdão e Seu cuidado com os outros. Porém, entre os brasileiros o interesse em aprofundar o conhecimento a respeito do Messias é maior do que de outros jovens nos demais países pesquisados: 75% disseram que querem aprender mais sobre Cristo – percentual oito pontos superior à média apurada na América Latina (67%).
O trabalho também demonstrou que os adolescentes do Brasil já sustentam uma visão bíblica a respeito do Salvador: 74% afirmaram acreditar que Jesus oferece esperança às pessoas, 60% disseram que Ele faz diferença real no mundo de hoje, e 70% acreditam que Cristo voltará um dia. Além disso, 55% dos entrevistados brasileiros consideram que Jesus era Deus em forma humana.
O estudo levou em consideração a filiação religiosa dos respondentes e, no caso dos cristãos, classificou-os como comprometidos (aqueles que afirmam ter um compromisso pessoal em seguir a Cristo) e nominais (os quais dizem ser servos de Deus, mas que não deixam claro se têm comprometimento com a fé). O número de jovens que se identifica como cristãos comprometidos (45%) é pouco maior que o dobro da média global (22%).
O relatório da pesquisa não dá pistas sobre os motivos pelos quais os adolescentes brasileiros são mais comprometidos com a fé cristã. Mas especialistas ouvidos por Graça/Show da Fé em reportagens recentes já sinalizavam que o crescimento das igrejas evangélicas no país nos últimos anos era fruto do maior interesse dos mais novos por Cristo.
Outro trabalho, coordenado pelo pesquisador Victor Augusto Araújo Silva, da Universidade de Zurique, na Suíça, demonstrou que o número de denominações evangélicas abertas no Brasil saltou de 17 mil, em 1990, para quase 110 mil em 2019 – um aumento superior a 540% em um período de quase três décadas.
“Amizade e confiança” – Para muitas pessoas, a capacidade das congregações evangélicas de atrair os adolescentes é grande por causa da mensagem que pregam. É o que pensa a líder estadual de jovens da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Santa Catarina, Daniela Santana. Na opinião dela, a nova geração tem encontrado nas comunidades cristãs o apoio espiritual e emocional de que necessita nessa fase da vida. “Eles precisam, muitas vezes, de um abraço, uma conversa e, principalmente, dos ensinamentos bíblicos para não se perderem em um mundo de atrações ilusórias. Os adolescentes esperam encontrar, na igreja, amor, acolhimento e a verdadeira liberdade que há em Cristo.”
O Pr. Eduardo Fattermann, da Igreja Batista da Água Branca, na zona oeste de São Paulo (SP), concorda com a pregadora. Para ele, a principal busca dos adolescentes é saciar sua sede espiritual por meio de conexões significativas e do sentimento de pertencimento. “A partir das relações de amizade e confiança, eles amadurecem na fé em Jesus, que é comunitária e não individualista. Por isso, falar da fé na vida do adolescente é se referir a um sentido de pertencer a algo maior, que cause impacto positivo no mundo.”
Fattermann salienta que, ao contrário do que muitos dizem, os jovens não são a igreja do futuro, e sim do presente, pois possuem energia, criatividade e disposição para servir e são capazes de impactar a comunidade eclesiástica. “Percebe-se que existe uma busca por esperança e sentido na vida. Por essa razão, é necessário que eles tenham uma boa base bíblica, a fim de que façam a diferença não só na igreja, mas também em qualquer contexto em que estiverem inseridos.”
Discípulos digitais – A líder estadual dos adolescentes da IIGD em Goiás, Regina Feitosa Nobre, alerta: embora os adolescentes brasileiros estejam abertos ao Evangelho, a mensagem da Palavra que lhes é transmitida precisa estar integrada às suas vivências. “Assim, fará sentido para eles”, aponta a líder, acrescentando a importância de as comunidades cristãs concentrarem seus esforços na proclamação da essência do Evangelho à juventude: o fato de ser um pecador que carece de Cristo para se aproximar de Deus. “Se a igreja não trabalhar com essa visão, os adolescentes ficarão espiritualmente superficiais na fé e no conhecimento bíblico. Esta geração precisa conhecer Jesus de forma simples e prática.”
O Pr. Gabriel Neres, da Igreja Batista do Morumbi, zona oeste de São Paulo (SP), também entende que o cuidado com a nova geração é extremamente necessário. Ele chama a atenção para a existência dos chamados discípulos digitais: adolescentes que estão aprendendo sobre a fé cristã e a mensagem bíblica a partir de mensagens transmitidas em vídeos curtos por meio das redes sociais. Na visão do ministro, esse fenômeno apresenta pontos positivos e negativos. “A difusão do Evangelho para fronteiras ilimitadas é muito boa. Em contrapartida, há muita cosmovisão [visão de mundo] bíblica sendo formada a partir de equívocos teológicos. Isso porque o propagador da mensagem não possui um conhecimento da Palavra aprofundado”, opina.
Neres acredita ser fundamental que haja um retorno ao paradigma geracional bíblico, isto é, que a geração presente ensine a Palavra de Deus à próxima e, assim, sucessivamente, a começar pelo ambiente familiar. Citando o Salmo 127.3,4 (Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre, o seu galardão. Como flechas na mão do valente, assim são os filhos da mocidade), o pregador batista lembra que, no mundo antigo, o arqueiro produzia a própria flecha. “Ele colhia o galho, lapidava-o e colocava a envergadura adequada para, então, mirar no alvo e acertar. Do mesmo modo, os pais precisam caminhar ao lado dos filhos, ensinando-lhes e moldando-os, para que sejam lançados e consigam acertar o alvo, que é Cristo”, instrui.
Caráter cristão – O Pr. Douglas Roberto de Almeida Baptista, da Assembleia de Deus de Missão, no Distrito Federal (DF), acredita que a cultura vigente no mundo tem feito com que diversos adolescentes se voltem para Cristo. De acordo com Baptista, o relativismo, o patrulhamento ideológico e as crises política e econômica provocam grave insegurança na juventude, e, por isso, rapazes e moças tendem a buscar abrigo e esperança em Jesus.
Entretanto, o pastor destaca que os adolescentes de hoje repudiam a religiosidade aparente e almejam uma comunhão profunda com o Criador. “Não desejam ser cristãos nominais, e sim experimentar o verdadeiro cristianismo, que é capaz de transformar vidas.” Por outro lado, Douglas Baptista afirma que os líderes do Evangelho precisam preparar espiritualmente os mais moços, a fim de que estes estejam à frente das igrejas em um futuro próximo. “É importante que a liderança atual seja conscientizada e invista na formação do caráter cristão dos jovens.”
O Pr. Tiago Bentes, da Igreja Batista Reformada Farol, em Videira (SC), reforça a necessidade de forjar bem a nova geração, à luz dos ensinamentos bíblicos. Em seu ponto de vista, os jovens representam perfeitamente as palavras do teólogo Francis Schaeffer (1912-1984), o qual dizia que a nossa geração já não sabe o conceito de verdade. Para Bentes, a atual geração é ainda mais instável que as demais quando se trata desse ponto: “É a mais teimosa em rejeitar o que se apresenta como verdade.”
Ele defende que as lideranças evangélicas precisam estar atentas acerca da maneira como anunciam a mensagem da cruz aos adolescentes. “Já não é possível simplesmente apresentar o Evangelho, é necessário fazer a exposição do conceito de verdade”, argumenta Bentes, acrescentando que os jovens procuram por algo que lhes seja eterno, preencha-os e lhes dê sentido, mas são apresentados todos os dias nas redes sociais a um “cardápio” vasto, tóxico e reacionário aos ensinamentos bíblicos.
No entanto, o pastor ressalta que, mesmo em meio a tantos desafios, o Evangelho triunfará. Para ele, os adolescentes brasileiros estão sedentos de Deus e de Sua Palavra – como revela a pesquisa mencionada no início desta reportagem. “As Boas-Novas avançam, e os jovens continuam sendo ganhos para Cristo, porque o reino de Deus consiste não em palavra, mas em poder [1 Co 4.20 – ARA]. O Evangelho é mais que discurso”, conclui Bentes.