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23/11/2022Papel fundamental
Pais, pastores e especialistas falam sobre a importância de fornecer às crianças uma sólida formação espiritual no lar
Por Patrícia Scott
A permanência dos filhos nos caminhos do Senhor é algo que inquieta os pais. Isso porque, muitas vezes, os atrativos mundanos exercem grande influência sobre os mais jovens. Um levantamento realizado nos Estados Unidos pelo instituto de pesquisas Barna mostrou que os cristãos são os mais atentos ao desenvolvimento da espiritualidade de seus filhos e à formação religiosa deles. Segundo o estudo, divulgado no primeiro semestre deste ano, 84% dos cristãos praticantes estão muito preocupados (51%) ou de alguma forma preocupados (33%) com a vida espiritual da prole. Entre os pais que não se identificam como cristãos, apenas 58% dos entrevistados revelaram preocupação com essas questões.
Se a pesquisa fosse realizada no Brasil, a administradora Charlenny Gomes da Silva, 38 anos, estaria no grupo dos pais que estão muito preocupados com a vida espiritual dos filhos. Mãe de três adolescentes com idades entre 12 e 17 anos, ela revela que ora por eles todos os dias e jejua frequentemente pelo mesmo propósito. “Também converso, realizo o culto doméstico e mantenho a rotina de ir à Igreja, para que percebam a importância de servir ao Senhor”, destaca a administradora, casada com o servidor público Reginaldo Ruhbi Braga Gonçalves, 39 anos.
Membro da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Paraviana, na cidade de Boa Vista (RR), e voluntária do ministério infantil, Charlenny se dedica a aprender sobre educação de filhos. Para tanto, lê a respeito do tema e procura orientação pastoral quando necessário. “Busco ser uma mãe amiga e protetora. Eles passam por fases diferentes, então tenho de ter sabedoria e prudência”, explica Charlenny.
A ajudante geral Camila Mendes de Oliveira Nascimento, 32 anos, também tem três filhos, com idades entre 1 e 11 anos. De acordo com ela, por ainda serem pequenos, a caminhada espiritual deles é motivo de cuidado, principalmente por causa das inúmeras atrações mundanas que se opõem à Palavra de Deus. “Os mais velhos já sabem ler a Bíblia. Coloco louvores para ouvirem, e eles brincam de fazer culto em casa”, relata ela, que congrega na Igreja da Graça em Ouro Branco, cidade de Londrina (PR).
Casada com o soldador Carlos Alberto Nascimento, 38 anos, ela diz que as crianças gostam de ir às reuniões na IIGD e levam a vida espiritual muito a sério. Inclusive, um deles está se preparando para ser obreiro mirim. “Quando chegam à Igreja, vão orar”, afirma Camila, que atua como voluntária no ministério infantil.
Valores cristãos – A Pra. Liana Laborão Santos, da Comunidade Cristã de Nova Friburgo (RJ), enfatiza que os pais devem dar o exemplo. De acordo com a líder, é preciso expressar o amor incondicional pelos filhos e manter os hábitos da oração e do jejum. “A Palavra precisa ser ensinada com a prática, pois o aprendizado do conceito que os filhos formarão a respeito do Senhor se construirá a partir do comportamento dos pais.”
Além disso, a pregadora lembra que as famílias precisam ter consciência de que estão em uma batalha invisível em favor de seus herdeiros. “Vivemos uma guerra espiritual. Precisamos pegar o escudo da fé e pelejar pelas nossas famílias”, aconselha a pastora, citando o texto de Neemias 4.14b: Pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas filhas, vossa mulher e vossa casa.
Por sua vez,a Pra. Núbia Artiagas Taveira, da sede estadual da IIGD em Manaus (AM), considera que a Igreja pode auxiliar os pais no processo de alicerçar os filhos na fé, à medida que ensina as Escrituras. “Esse suporte é necessário, tendo em vista os desafios enfrentados pelos responsáveis para mantê-los nos caminhos do Senhor”, salienta a ministra. Ela destaca que diversas informações veiculadas pela mídia ensinam valores e conceitos contrários à fé cristã, o que gera dúvidas na juventude. “Antigamente, os pais ensinavam, e os professores reforçavam. Hoje, não é mais assim”, atesta a pastora, aconselhando a orar e crer que os ensinamentos ministrados em casa e na igreja darão frutos no decorrer da vida das crianças e dos adolescentes. [Leia, no final desta reportagem, o quadro Cartas vivas]
No entanto, a Pra. Joyce Braga, líder do ministério infantil da Igreja da Graça em Minas Gerais, acredita que uma parcela significativa dos pais cristãos não tem trabalhado para fortalecer a espiritualidade dos filhos. De acordo com Joyce, inúmeras crianças chegam à escola bíblica desprovidas de valores cristãos que deviam ter aprendido em casa. “Na Igreja, elas têm aulas por duas horas. Não é o suficiente para alicerçar o conhecimento. Sem contar que essa responsabilidade é dos pais. O apoio cabe à Igreja. As crianças devem ser evangelizadas e conduzidas no caminho do Senhor, conforme ensinam as Escrituras.”
A pastora cita como exemplo Abraão, um pai zeloso com a vida espiritual do filho, que impediu o casamento de Isaque com qualquer pessoa. “Ele deu ordem a um servo para buscar uma esposa do meio da parentela dele”, informa, referindo-se a Gênesis 24, versículos 3 e 4. A ministra lembra ainda outro episódio bíblico marcante: Ana, mesmo tendo entregue o filho Samuel aos cuidados do profeta Eli, ia visitá-lo uma vez ao ano. “O suporte maternal continuou. Ana queria saber como estava o desenvolvimento e o crescimento de Samuel”, ressalta Joyce, referindo-se às passagens de 1 Samuel 1.20,22-28 e 1 Samuel 2.18-21.
Autoridade espiritual – O Pr. Alexandre dos Anjos, da Assembleia de Deus Ministério Belém, na Lapa, zona oeste de São Paulo (SP), reforça a necessidade de a família gerar um ambiente espiritual saudável. De acordo com o ministro, os mais jovens necessitam ver que os responsáveis oram e leem a Bíblia regularmente. “Os pais precisam conversar com os filhos sobre a salvação, os milagres do Senhor, a eternidade”, ensina o pastor, acrescentando que é essencial os responsáveis exercitarem sua autoridade espiritual, com equilíbrio e orientação do Altíssimo. “Autoridade não é autoritarismo. Ela precisa ser dosada, para que não seja enfadonha nem se torne um peso para os filhos”, assevera o pastor, citando Colossenses 3.21: Vós, pais, não irriteis a vossos filhos, para que não percam o ânimo.
O Rev. Augustus Nicodemus Gomes Lopes, da Primeira Igreja Presbiteriana no Recife (PE), aponta que a família tem sofrido ataques que distorcem a autoridade dos pais nessa instituição estabelecida pelo Criador. Porém, independentemente dos conceitos vigentes, o ministro afirma que a Bíblia é, e sempre será, o manual de instrução para a educação ministrada no lar. “Na carta aos Efésios, Paulo destaca os deveres dos pais na vida dos filhos. Esse papel é destinado ao homem. Diante de Deus, o responsável pela instrução dos filhos é a figura paterna.”
Porém, Nicodemus afirma que a mulher deve participar do desenvolvimento espiritual e da educação dos rebentos como ajudadora. “Sem o suporte da mãe, não tem como o pai educar sozinho.” Além disso, o pastor presbiteriano salienta que os responsáveis devem orientar os filhos segundo a Palavra, mas lembrando que a conversão do coração deles é obra de Deus. “Os pais devem orar e crer na instrução das Sagradas Escrituras, que é uma atitude de fé”. E conclui com um conselho: “Peça graça ao Senhor para cumprir o seu papel de pai ou de mãe”.
Cartas vivas
Em seu livro A criação dos filhos (Graça Editorial), o Missionário R. R. Soares salienta que os pais são responsáveis por ditar aos filhos a maneira correta de viver. E isso não propriamente pelo que eles falam ou tentam lhes impor, mas pelo comportamento. Para tanto, enfatiza Soares: Os pais cristãos têm a obrigação de viver piedosamente, ou seja, praticarem a Palavra. Somos as cartas vivas, lidas por todos, principalmente pelos nossos filhos.
Segundo o autor, a época de levar os pequeninos a Deus é quando os pais percebem que eles já raciocinam a ponto de possuírem algum entendimento. Então, ao chegar esse momento, devem contar a eles a verdade sobre a criação, a queda de Adão e como o pecado entrou no mundo, além de ensinarem a respeito da vinda de Cristo e de Sua obra redentora na cruz. Após a explicação, [os pais] devem dar oportunidade à criança de aceitar ou rejeitar a Jesus, orando no Espírito para que ela aceite. No entanto, eles têm de deixar os filhos cientes de que não serão castigados se não aceitarem Jesus nem são obrigados a tomar tal decisão. Devem deixar o Espírito Santo fazer a obra, ensina o Missionário. (Patrícia Scott, com informações de Graça Editorial e colaboração de Élidi Miranda)