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25/10/2023Jornal das Boas-Novas – 293
22/12/2023Dever de casa
Pastores e especialistas falam da importância de ensinar a Palavra aos filhos no ambiente doméstico
Por Evandro Teixeira
A chegada de um bebê é motivo de alegria. No entanto, cada criança traz consigo uma série de necessidades materiais e emocionais que os pais precisarão suprir. Em se tratando de um lar cristão, pai e mãe terão de atender também às demandas espirituais dos pequenos. Conduzi-los aos pés de Deus e apresentar-lhes os princípios bíblicos são atribuições da família que segue Jesus.
Apesar disso, muitos pais cristãos têm deixado o discipulado familiar a desejar. A Bible2School, organização norte-americana destinada a levar a Bíblia a alunos de escolas públicas do país, revela que 60% das crianças atendidas por ela não aprendem sobre as Sagradas Escrituras em casa. A associação chegou a essa conclusão por meio de questionamentos aos educandos. Estes participam das atividades da organização mediante autorização dos pais – os quais, supõe-se, sejam majoritariamente cristãos ou simpatizantes da fé no Senhor Jesus. Ainda assim, a maioria não ensina a Palavra aos filhos no ambiente doméstico. É incrível porque a maioria das crianças que atendemos nas escolas públicas não tem “igreja” em casa. […] Assim, em muitos casos, ensinamos sobre Jesus às crianças pela primeira vez, informou a socióloga Kori Pennypacker, diretora-executiva da Bible2School, em entrevista ao portal de notícias norte-americano da Christian Broadcasting Network (CBN). [Leia, no final desta reportagem, o quadro Tarefas domésticas]
Há quem aponte a falta de tempo como um dos principais impeditivos para que os responsáveis cumpram a tarefa de falar de Cristo aos pequenos, visto que a rotina corrida de trabalho tem sido um desafio para muitas famílias. Entretanto, na opinião do Pr. Marcus Vinícius Marques, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Gama (DF), esse é um argumento insustentável. Para ele, quem abre mão dessa responsabilidade não coloca o Senhor em primeiro lugar.
Citando o conhecido texto de Eclesiastes 3.1 (Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu) e a parábola do semeador, que alerta sobre as preocupações da vida e os prazeres mundanos que podem sufocar a Palavra no coração (Lc 8.14), Marques enfatiza o dever dos pais de ensinar as Escrituras em casa e preparar os filhos para as situações cotidianas. “Temos de prestar atenção ao que o Senhor diz, para não cairmos no erro de criar filhos sem raízes em Deus.”
Na visão do líder, cabe ainda aos pais estarem vigilantes para, com discernimento espiritual, perceberem quando o comportamento dos rebentos destoa do padrão bíblico. O ministro ressalta que os responsáveis devem ser modelos a serem seguidos, da mesma forma que fez o patriarca Abraão. Ele foi orientado por Deus a ensinar seus filhos a guardarem o caminho do Senhor e agirem com justiça, a fim de que o Altíssimo pudesse fazer dele uma grande nação (Gn 18.19). “Se o patriarca tivesse negligenciado a ordem divina, nada teria acontecido. O mesmo pode ocorrer nos dias atuais, se não seguirmos as orientações do Senhor”, compara.
“Armadilhas do inimigo” – A vendedora Kátia dos Santos Tarquino da Silva, 42 anos, garante que, com empenho, é possível driblar a falta de tempo e inserir o ensino bíblico na rotina dos filhos. Membro da Assembleia de Deus no Catiri, na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), e casada com o operador de máquinas Márcio Tarquino da Silva, 52 anos, Kátia, mesmo trabalhando várias horas por dia, sempre encontra tempo de falar da Bíblia com seus pequenos – Maria Eduarda, 13 anos, Moisés, 3, e Rebecca, de 1 ano.
Atualmente, a mais velha recebe atenção especial. Pelo fato do marido ainda não ter se decidido por Cristo, Katia enfrenta sozinha o desafio de ensinar a adolescente a andar nos caminhos do Senhor. “A curiosidade pode levar crianças e jovens a caírem em armadilhas do inimigo”, lembra a vendedora, assinalando que, quando bem direcionado, esse traço da idade pode ser explorado positivamente.
Neste momento, em que o avanço da tecnologia tem tornado mais rápido e fácil o acesso a todo tipo de informação, a pedagoga Simone Maia de Carvalho, 53 anos, da Igreja do Evangelho Quadrangular em Bangu, zona oeste carioca, agradece a Deus por ver seus filhos firmes na fé: Amanda, 24 anos, é casada e pastora; Matheus, 19, é músico e diácono. “Quando eram pequenos, fazíamos cultos domésticos e os encorajávamos a encontrarem seu propósito em Deus. Hoje eles têm isso no coração”, compartilha Simone, casada com o Pr. Marcos Antonio Rossi da Conceição, 57 anos.
Embora reconheça que a correria possa tornar difícil inserir o ensino dos princípios cristãos na rotina dos filhos, a pedagoga percebe que o problema não se limita ao tempo. Na opinião dela, existe uma falta de interesse e empenho das famílias em fortalecer as bases espirituais no lar. “Há muitas desculpas e poucas atitudes. Esse comodismo pode gerar problemas futuros.”
“Tarde demais” – A Profª Karen Marta Regina Doreto de Andrade Bandeira, da Assembleia de Deus na Taquara, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), lembra que a melhor fase para aprender sobre Deus é a infância, pois o caráter da pessoa está em formação. De acordo com ela, nesse momento, o coração dos pequenos está aberto para receber mais facilmente os ensinamentos espirituais. “Não devemos esperar que eles cresçam para evangelizá-los, pois poderá ser tarde demais”, pontua.
Para a docente, a família é a esfera que cerca o indivíduo mais de perto. Sendo assim, o ideal é a criança ser educada e discipulada em casa. A igreja e a escola devem apenas complementar o que os pais não puderem fazer. Na opinião dela, não há mistério na execução dessa tarefa, e os responsáveis não precisam ter noções de Didática para ensinar os pequenos a seguirem os passos de Jesus. “O amor pela alma dos filhos deveria mover os pais a discipulá-los.”
A Profª Suleima Monsores Rigueira, membro da Assembleia de Deus em Padre Miguel, zona oeste carioca, salienta que, ao orientar os filhos nos caminhos do Senhor, os pais estão formando servos de Deus e bons cidadãos. No entanto, ela frisa que, além de oferecer a educação religiosa, eles precisam estar atentos ao comportamento dos filhos e, ao menor sinal de desvios, devem agir. “Orar e conversar com eles é o melhor caminho. A desatenção pode permitir brechas para atitudes mundanas.”
Nesse sentido, o Pr. Neilson Barreto Santos, líder regional da Igreja da Graça em São Carlos (SP), lembra o caso de Joel e Abia, filhos do profeta Samuel, que se desviaram do caminho do Senhor e se tornaram um problema em Israel.“Diz a Bíblia que eles não andaram pelos caminhos dele; antes, se inclinaram à avareza, e tomaram presentes, e perverteram o juízo (1 Sm 8. 3)”, cita o ministro, considerando que as famílias precisam estar atentas à criação dos filhos no temor de Deus. “Nas reuniões, temos orientado os pais, com base na Palavra, sobre a importância de educar os filhos biblicamente”, compartilha Santos. Por outro lado, ele reafirma a relevância das escolas bíblicas na formação dos pequenos. “Essa parceria entre a igreja e a família só ajudará as crianças. Elas aprendem em família e na casa de Deus.”
Combater o inimigo – O Pr. João Florêncio de Oliveira Alves Júnior, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Rio Verde (GO), cita Deuteronômio 6, versículos 6 e 7, para reforçar a importância de instruir os pequenos no Evangelho: E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te.
Segundo o líder, embora alguns responsáveis aleguem falta de paciência para ensinar os filhos, nada pode ser motivo para negligenciar uma tarefa tão importante. Para o ministro, a educação religiosa dos filhos combate a ação do inimigo sobre os pequenos. Ele compara esse compromisso com o que fizeram José e Maria, ao fugirem para o Egito, resguardando Jesus da matança promovida por Herodes (Mt 2.13-16). “Da mesma forma, precisamos cuidar bem de nossos filhos, a fim de livrá-los do mal.”
Já o Pr. Marcos Antônio B. da Silva Júnior, da Igreja do Evangelho Quadrangular Catedral da Família em Quintas, na cidade de Natal (RN), entende que, para ensinar os filhos em casa, a organização e o planejamento são centrais. “Devemos criar oportunidades para que a Palavra faça parte da rotina dos nossos filhos”, aconselha o pregador. Ele critica o uso excessivo dos recursos tecnológicos, porque geram distrações e roubam o escasso tempo que as famílias têm para se dedicar à oração e ao estudo da Palavra. “Às vezes, os pais até mantêm a leitura bíblica diária, mas se esquecem de incluir o filho nesse contexto”, lamenta o líder, destacando que a tarefa de suprir as necessidades espirituais dos filhos jamais deveria ser negligenciada. “Nosso primeiro ministério é nossa casa. Quando cuidamos de nossa família, cuidamos da obra de Deus.”
Tarefas domésticas
A Bíblia apresenta uma série de princípios a serem seguidos pelos pais cristãos na educação dos filhos. Portanto, eles devem:
Treinar os filhos na Palavra: Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele (Pv 22.6).
Facilitar o acesso das crianças a Cristo: Jesus, porém, disse: Deixai os pequeninos e não os estorveis de vir a mim, porque dos tais é o Reino dos céus (Mt 19.14).
Ensinar-lhes a respeito de quem é Deus e Seus feitos poderosos: E as doze pedras, que tinham tomado do Jordão, levantou-as Josué em Gilgal. E falou aos filhos de Israel, dizendo: Quando no futuro vossos filhos perguntarem a seus pais, dizendo: Que significam estas pedras? Fareis saber a vossos filhos, dizendo: Israel passou em seco este Jordão. Porque o Senhor vosso Deus fez secar as águas do Jordão diante de vós, até que passásseis, como o Senhor vosso Deus fez ao Mar Vermelho que fez secar perante nós, até que passássemos. Para que todos os povos da terra conheçam a mão do Senhor, que é forte, para que temais ao Senhor vosso Deus todos os dias (Js 4.20-24).
Enfatizar a importância da obediência: Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (1 Tm 3.4).
Discipliná-los sempre que necessário: Porque o SENHOR repreende aquele a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem (Pv 3.12).
Não provocar neles a ira ou a revolta: E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor (Ef 6.4).
(Fontes: Cornerstones for Parents e Bíblia Sagrada)