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Foto: Bruno Moraes

Mundo virtual, mensagem real

Pastores e especialistas falam sobre a necessidade de fazer bom uso das redes sociais para comunicar as verdades bíblicas ao povo brasileiro

Por Marcelo Santos

No dia 15 de agosto, o Missionário R. R. Soares felicitou o povo da Índia, país do Sul da Ásia de 1,4 bilhão de habitantes, pelos 77 anos de independência em relação ao Império Britânico. De seu gabinete, no Rio de Janeiro (RJ), o pregador fez uma live na página que mantém no Facebook destinada àquela nação. Falando em inglês, e interpretado pela indiana Nikita Kumar na língua hindi, idioma utilizado por 70% dos indianos, R. R. Soares pregou o Evangelho por cerca de 30 minutos e aproveitou a transmissão ao vivo para orar pelos espectadores. “Hoje, é seu dia de receber uma bênção do Céu. […] Estou no Brasil, e, você, em qualquer parte da Índia ou em outro país. Vou orar, e Deus responderá a essa oração onde você está”, assegurou o líder da Igreja da Graça durante a live, que foi acompanhada por algumas centenas de milhares de pessoas. Ao final da pregação, muitas delas enviaram mensagens atestando a cura de alguma enfermidade ou contando que aceitaram Cristo como Salvador. O Missionário ficou impressionado com o alcance da iniciativa. “Antes de começarmos, 320 mil pessoas já tinham visto o convite e aguardavam o início da live. Imagine agora quantos milhões assistirão a transmissão gravada. É muito lindo o que estamos fazendo, é um trabalho que está alcançando o mundo todo!”, celebrou Soares.

Reprodução do perfil do Missionário R. R. Soares no Instagram: pregações, recados, ensinamentos e lives para comunicar a mensagem do Evangelho a todo o mundo
Foto: Reprodução

O sucesso dessa empreitada on-line é apenas uma pequena demonstração do poder da internet para a propagação do Evangelho e a disseminação da mensagem cristã. Em um mundo cada vez mais digital, as redes sociais têm sido ferramentas poderosas para a divulgação da fé em Cristo e da Palavra de Deus. Somente o Missionário R. R. Soares alcança, hoje, dezenas de países ao redor do globo por meio de seus diversos perfis internacionais no Facebook e no Instagram. Assim, as mensagens do pregador, dubladas ou legendadas, têm chegado a centenas de milhares de pessoas de diferentes nacionalidades e línguas. Para atingir tantas nações, o líder lança mão de uma megaestrutura – mantida pela generosidade dos patrocinadores, chamados a contribuir com essa obra de evangelização mundial –, incorporando as facilidades da banda larga digital, o uso de equipamentos modernos e o trabalho de profissionais dedicados.

Foto: Prima91 / Adobe Stock

Em Marcos 16.15, Jesus ordenou: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. É fato que, nos dias atuais, qualquer cristão munido de um celular com acesso à internet – e algum conhecimento sobre o uso correto das redes sociais –, pode anunciar a Palavra dentro e fora do ambiente virtual e produzir muitos frutos para o Reino de Deus na comunidade, na cidade ou no país em que vive. De acordo com pesquisas realizadas por empresas especializadas, isso realmente ocorre, sobretudo no Brasil, uma nação “virtualizada” composta de milhões de pessoas que passam várias horas conectadas. Segundo dados apresentados em 2020 pela agência de publicidade internacional We Are Social, o brasileiro gasta, em média, 9 horas por dia na rede mundial de computadores. Dessa média, 3h31 são dedicadas somente às redes sociais. Além disso, monitoramentos mais recentes, como o estudo da Comscore, empresa norte-americana de análise da web, indicam que o nosso país é o terceiro no planeta que mais consome redes sociais: a cada dez brasileiros, sete usam essas plataformas. Na América Latina, o Brasil lidera em número de usuários e tempo de uso: são 131,5 milhões de pessoas que passam, em média, 46 horas só nas redes sociais. Plataformas como YouTube, Facebook e Instagram são os serviços mais acessados pelos brasileiros, seguidas de TikTok e Kwai.

O Pr. Elder Cavalcante não perde a oportunidade de usar as redes para anunciar o Evangelho: “Sempre mantenho a rotina e a constância nas postagens e procuro me atualizar, estudando sobre os algoritmos”
Foto: Arquivo pessoal

Estudando algoritmos Não por acaso, o Pr. Elder Cavalcante, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Rio Grande do Norte, não perde a oportunidade de usar as redes para anunciar o Evangelho. Ele conta que começou divulgando suas pregações pelo Facebook. “Postava trechos curtos das mensagens, que viralizaram. Hoje, alcançamos de cinco a dez milhões de pessoas somente nessa rede social”, celebra o pastor, que utiliza também o TikTok para publicar seus vídeos e o Instagram e o YouTube para postar orações diárias. “Elas acabam sendo compartilhadas”, alegra-se o líder, acrescentando que a estratégia dele é pregar a Palavra e orar. “Sempre mantenho a rotina e a constância nas postagens e procuro me atualizar, estudando sobre os algoritmos. Não é só postar, mas também entender como funciona cada plataforma e entregar o que elas pedem”, informa o ministro do Evangelho.

Foto: Olivier Bergeron / Unsplash

Com relação ao conteúdo das mensagens, Cavalcante aponta qual é o segredo utilizado por ele para alcançar os cristãos: “É preciso estar atualizado, ver o que está acontecendo no mundo e apresentar uma resposta com base na Palavra de Deus”, ensina. O líderrelata que, certa vez, postou um conteúdo no TikTok que rendeu mais de um milhão de visualizações. “Era um vídeo em que eu falava sobre a bebida. Muitas pessoas me xingaram, mas outras falaram das suas compulsões e pediram ajuda. Maior é o que está em vós [1 Jo 4.4]. Não há como pregar o Evangelho e evitar o confronto.” Os haters – pessoas que destilam agressividade e ódio ao serem confrontadas com ideias diferentes – são um desafio a qualquer um que se exponha na web. Mas, para o pregador, é preciso aprender diariamente a lidar com essa questão. “A internet é diferente da televisão. Na TV, se alguém não concorda com alguma ideia, guarda consigo a sua opinião. Nas redes sociais, por outro lado, há a possibilidade de comentar. É impossível falar de fé e agradar a todos”, esclarece. Cavalcante afirma, entretanto, que quem se ofende com as postagens dele é minoria. “A maior parte é abençoada, recebe bem a mensagem. Muitos me procuram pedindo aconselhamento e oração.”

O Pr. Vanderlei Duarte Junior conta que já enfrentou muitas críticas e muitos ataques, inclusive racistas, por causa de suas publicações, mas não desanima: “Estar com Cristo é isso. O Senhor não me chamou para viver em um parque de diversões, e sim para negar a mim mesmo, tomar a cruz e segui-Lo”
Foto: Arquivo pessoal

O Pr. Vanderlei Duarte Junior, líder estadual da Igreja da Graça no Sergipe, conta que já enfrentou muitas críticas e muitos ataques, inclusive racistas, por causa de suas publicações. “Já aconteceu diversas vezes, até no direct [mensagens particulares do Instagram]. Mas estar com Cristo é isso. O Senhor não me chamou para viver em um parque de diversões, e sim para negar a mim mesmo, tomar a cruz e segui-Lo.” Duarte Junior é bastante conhecido na internet, por ter uma forte atuação nas redes sociais, são 230 mil seguidores apenas no Instagram e quase um milhão no Tiktok. Filho de um dos fundadores de um famoso grupo de samba, Vanderlei testemunha sua transformação pessoal e familiar, a libertação do alcoolismo e como a Palavra de Deus o resgatou do fundo do poço. “Senti o desejo de orar com as pessoas, à meia-noite, por meio do Facebook. E, há seis anos, criei um perfil no Instagram voltado à nossa igreja local, com pregações e trechos das mensagens. Porém, durante a pandemia, a coisa tomou corpo”, recorda-se o pregador, ao lembrar que, em 2020, com as igrejas fechadas, pediu direção a Deus e passou a produzir conteúdo para as redes. “Temos como estratégia semear a Palavra por meio de parábolas. Contamos uma história e, depois, damos o ensino bíblico. Muita gente diz que os vídeos precisam ser curtos para fazer sucesso e que, para viralizar no Tiktok, por exemplo, o tempo máximo é de 30 segundos. No entanto, um vídeo que alcançou 20 milhões de views tem sete minutos de duração. As pessoas precisam de alimento espiritual”, defende.

Foto: Harry Cunningham / Unsplash

Geração selfie De fato, o ambiente virtual é um espaço no qual muitas pessoas, principalmente os jovens – cada vez mais conectados – buscam informação sobre fé, querem ser encorajados e desejam obter respostas para as questões mais difíceis da vida. É o que indicam especialistas e líderes evangélicos. “A Igreja pode promover o diálogo com a nova geração quando ela – e me refiro sobretudo aos líderes e pastores – estiver presente nas redes e compreender o seu funcionamento”, analisa o jornalista, pastor e pesquisador Rodolfo Capler.

O jornalista, pastor e pesquisador Rodolfo Capler analisa: “A Igreja pode promover o diálogo com a nova geração quando ela – e me refiro sobretudo aos líderes e pastores – estiver presente nas redes e compreender o seu funcionamento”
Foto: Arquivo pessoal

Estudioso do fenômeno da Geração Selfie, título de seu primeiro livro, publicado pela Editora Quitanda, que trata sobre os chamados nativos digitais, e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo (PUC-SP), Capler avalia que os nascidos a partir dos anos 2000 utilizam as redes sociais de forma muito eficaz, para se relacionar e trabalhar ou até mesmo para a autopromoção, e que os pastores precisam estar atentos a esse fenômeno. Ele chama atenção, inclusive, para o comportamento reativo de muitos evangélicos no ambiente virtual. “Alguns apontam o que é errado e o que não pode ser feito, mas deveriam ser propositivos. Se desejamos que a mensagem do Evangelho permaneça relevante e impactante para a geração selfie, precisamos focar nos princípios éticos e humanitários de Jesus descritos nos evangelhos, que são o amor, a graça, o acolhimento, o perdão e a solidariedade. Isso tudo permanece e é desejado pelos jovens”, afirma.

O estudante de Rádio, TV e Internet Caio dos Santos Xavier afirma que a Igreja deve usar as ferramentas digitais para divulgar a mensagem de Cristo
Foto: Marcelo Santos

 O estudante de Rádio, TV e Internet Caio dos Santos Xavier, 22 anos, faz parte da geração selfie. Responsável pela área de comunicação do ministério Jovens que Vencem (JQV) na sede estadual da Igreja da Graça em São Paulo, ele concorda com Capler e afirma que a Igreja deve usar as ferramentas digitais para divulgar a mensagem de Cristo. “Foi por meio da página do JQV nas redes sociais que conheci o ministério e senti a unção de Deus nos momentos devocionais. Tudo isso me fez ter vontade de ir à Igreja. Foi o que me levou à conversão”, testemunha Caio, explicando que, atualmente, quatro pessoas atuam de forma voluntária na comunicação doJQV, documentando as programações, divulgando fotos, postando vídeos e produzindo diversos conteúdos para a web. “Sabemos que muitas pessoas só conseguem ter acesso aos cultos e às mensagens pelas redes sociais. Há quem produza coisas ruins, mas nós geramos bênção. Costumamos dizer que somos os olhos dos que não puderam estar presentes nos cultos e nos eventos e daqueles que compareceram, mas desejam guardar aqueles momentos para sempre.”

O Pr. Wanderley Rocha, conhecido como Zé de Jesus, compreende a importância do bom uso das redes sociais para glorificar o Nome de Jesus: “Há pessoas que foram alcançadas no hospital, outras se libertaram da depressão”
Foto: Marcelo Santos

Líder nacional do JQV, o Pr. Wanderley Rocha, conhecido como Zé de Jesus, compreende a importância de saber usar as redes sociais para glorificar o Nome de Jesus. De acordo com ele, são muitas as experiências compartilhadas de cura e salvação de gente tocada por Cristo por meio das transmissões on-line. “Há pessoas que foram alcançadas no hospital, outras se libertaram da depressão. É verdade que muitos usam a internet para disseminar falsas informações ou mesmo para pregar uma mensagem distorcida. Da nossa parte, temos de manter a verdade do Evangelho nas redes, para a glória de Deus!”, conclui o ministro.

Foto: Alex Photo / Adobe Stock

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