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Pastores analisam por que pessoas religiosas tendem a ser mais felizes
Por Patrícia Scott
A busca pelo contentamento é uma inclinação da espécie humana. Desde a Antiguidade, os sábios se dedicam a analisar esse estado de plena satisfação. Segundo o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), a felicidade seria o equilíbrio, a harmonia e a prática do bem. O pensador romano Cícero (106-46 a.C.) pregava que viver feliz não é mais do que viver com honestidade e retidão.
Séculos antes, o salmista, ao tratar do mesmo assunto, apresentava a questão de maneira prática: Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite (Sl 1.1,2). Em outras palavras, a equação bíblica de felicidade transcende a questão ética enfatizada pelos estudiosos citados, pois acrescenta uma variável essencial: a fé.
Segundo uma pesquisa realizada recentemente no Reino Unido pelo Instituto para o Impacto da Fé na Vida (IIFL, a sigla em inglês), acreditar faz a diferença. O levantamento constatou que, dentre os que se identificam como pessoas de fé, 76% se descrevem como felizes. Entre os ateus, o percentual é de apenas 52%. De acordo com o Dr. Rakib Ehsan, PhD em Ciência Política e Integração Social pela Royal Holloway University of London (RHUL) e pesquisador sênior do IIFL, a distinção entre ateus e religiosos felizes está no estilo de vida dos que professam uma crença. Eles participam de celebrações semanais e de outras atividades propostas para a comunidade de fé à qual pertencem e assim se mantêm em permanente contato com pessoas que possuem interesses afins, declarou Ehsan em entrevista ao portal Premiere Christian News.
Amizades sadias – A felicidade tem muito a ver com conexões interpessoais saudáveis. É o que pensa a Pra. Rozimar Santos, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Vargem Pequena, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ). Ela considera a Igreja essencial na construção de amizades com base na Palavra.
Por outro lado, a ministra alerta para os que procuram viver isolados. Fundamentada no texto de Provérbios 18.1 (Busca seu próprio desejo aquele que se separa; ele insurge-se contra a verdadeira sabedoria), ela salienta que não há serviço no isolamento. “Por isso, o indivíduo não alcança a sabedoria que procede do Senhor.”
Rozimar Santos ressalta que, nas amizades e conexões da congregação, há um propósito de serviço ao próximo e interesse mútuo. “Existe a alegria em dar e receber”, diz a pastora, citando o conhecido texto do Salmo 133.1-3: Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.
Fonte da felicidade – Além dos laços de amizade proporcionados pelo coletivismo, a confiança no Criador está na raiz da felicidade, como lembra o Pr. Júlio Reis Silva, da Igreja da Graça no Centro de Codó (MA), município da Região dos Cocais, distante 292 km de São Luís. De acordo com o ministro, as Escrituras Sagradas se referem ao tema repetidas vezes. “Desconheço outro livro que trate o caminho para a plenitude de maneira tão enfática e didática. Essa fonte está na fé em Deus.”
Para Júlio Silva, qualquer atividade terrena – momentânea e desprovida da dimensão eterna que vem do Criador – está fadada ao fracasso se almeja proporcionar a real felicidade. O pastor menciona os versículos 1 e 2 do Salmo 128 (Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! Pois comerás do trabalho das tuas mãos, feliz serás, e te irá bem) para garantir que, no Senhor, temos tudo de que precisamos. “O ser humano foi criado por Deus. Ele nos mostra o caminho da felicidade, da satisfação.”
O ministro informa que a Bíblia contém 94 referências a esse assunto. “São 46 citações no Antigo Testamento e 48 no Novo Testamento, reveladas de maneira direta e aplicável a todos.” De acordo com ele, nos originais do Antigo Testamento, a expressão hebraica traduzida para o português como feliz ou bem-aventurado é ashrei haysh,que significa feliz é o homem. No Novo Testamento, o termo grego utilizado para exprimir a mesma ideia é makários. “Ambos apontam para sinônimos, como próspero, abençoado e correto”, ensina.
Vida abundante – O Pr. Weslley Morais, líder regional da IIGD em Mossoró (RN), acentua que é preciso distinguir entre alegria e felicidade. Ele observa que a primeira diz respeito a um sentimento gerado por momentos que fazem bem à pessoa. “A segunda é o estado de espírito constante do salvo. Quem entrega o coração a Jesus tem nEle plenitude, pois encontrou vida abundante”, assegura, referenciando-se às palavras do Mestre em João 10.10b: Eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância.
Segundo o líder, a felicidade do cristão independe das situações. Ele ensina que todo salvo é feliz por saber que o Senhor dá segurança aos que nEle confiam. “Só é possível separar a felicidade das circunstâncias quando andamos com Cristo, vivendo por fé, e não por vista”, explica o pastor, realçando as palavras do autor da carta aos hebreus: Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus (Hb 12.2). Weslley Morais faz referência ao exemplo do apóstolo Paulo: Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas (2 Co 4.16-18).
Exemplos – Na opinião do Pr. Antonio Junior, da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) no Setor Pedro Ludovico, em Goiânia (GO), a felicidade está em obedecer à voz de Deus. Ele frisa que o ser humano “anseia ser feliz para a satisfação dos próprios prazeres, tomando decisões precipitadas e errôneas”. O pregador cita o exemplo do rei Acabe, um dos maiores hereges do Antigo Testamento: E sucedeu que […] ainda tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi, e serviu a Baal, e se encurvou diante dele. E levantou um altar a Baal, na casa de Baal que edificara em Samaria […] de maneira que Acabe fez muito mais para irritar ao Senhor, Deus de Israel, do que todos os reis de Israel que foram antes dele (1 Rs 16.31-33). “Ele quebrou princípios espirituais e permitiu que o paganismo ganhasse força entre os israelitas, por viver longe do Senhor, resultando em infelicidade.” O pastor sublinha que aquele rei enfrentou as consequências da desobediência, sofrendo, inclusive, uma morte trágica. “A trajetória dele teria sido boa se fosse pautada nas ordenanças de Deus”, lamenta.
O Pr. Matheus Oliveira, da Comunidade Evangélica Projeto de Deus, em Anchieta, zona norte do Rio de Janeiro (RJ), destaca o exemplo positivo de outro monarca de Israel, Salomão, eternizado por sua sabedoria. “Seu reinado ficou marcado pela prosperidade e paz. Ele descobriu que a riqueza gera apenas felicidade momentânea”, explica o ministro, completando com as palavras do rei registradas em Eclesiastes 12.13: De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo homem.
De acordo com Oliveira, as Escrituras afirmam que Deus deseja que Seus filhos sejam felizes e provê os meios para que alcancem esse objetivo. Cabe ao homem escolher o bom caminho, como ensina o Salmo 34.12-14: Quem é o homem que deseja a vida, que quer largos dias para ver o bem? Guarda a tua língua do mal e os teus lábios, de falarem enganosamente. Aparta-te do mal e faze o bem; procura a paz e segue-a. Seguindo essa mesma linha, o profeta Isaías conclama: Se quiserdes, e ouvirdes, comereis o bem desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada, porque a boca do Senhor o disse (Is 1.19,20).
O ministro ensina que o Senhor Jesus aborda o tema em João 15.7: Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito. “A felicidade anunciada na Bíblia está condicionada ao comportamento humano”, assinala Matheus Oliveira, reforçando que ser feliz, à luz das Escrituras, é uma escolha. “A infelicidade é consequência de ignorar os princípios bíblicos”, comenta o pastor, explicando que a plenitude está associada à comunhão com Deus, obediência aos Seus mandamentos e prática da justiça e do bem em relação ao próximo. “No sermão da montanha, o Salvador enfatizou as bem-aventuranças e seus pilares: humildade, sede de justiça, pacificação e misericórdia.”
Para o Pr. Elton Batista de Melo, da Primeira Igreja Batista Independente em Curitiba (PR), “a verdadeira felicidade só pode ser encontrada na presença do Altíssimo”. De acordo com ele, o resultado da pesquisa mencionada nesta reportagem revela que a confiança em Deus habilita o ser humano a enfrentar os desafios existenciais com serenidade e otimismo. “O Pai é a base para uma vida alegre, independentemente dos obstáculos durante a caminhada”, ressalta o ministro, citando Salomão: O que atenta prudentemente para a palavra achará o bem, e o que confia no Senhor será bem-aventurado (Pv 16.20). “Essa promessa nos leva a refletir sobre o impacto da fé em Deus na busca por ser feliz, incentivando-nos a confiar nAquele que é a Fonte da felicidade”, conclui.