POR QUE O MAL EXISTE?
15/12/2024
POR QUE O MAL EXISTE?
15/12/2024
Foto: Lucy – Gerado com IA / Adobe Stock

BRINCADEIRA VICIANTE

Dependência em jogos on-line afeta adolescentes de tal maneira que muitos necessitam tratar a saúde mental

Por Lilia Barros

Não é segredo para ninguém que o mundo digital é parte integrante da vida dos adolescentes. Desde a infância, muitos deles se acostumaram a acessar jogos eletrônicos por meio de smartphones, tablets e computadores pessoais. Dentro desse ambiente digital, repleto de informações, entretenimento e oportunidades de socialização, há também riscos: exposição a conteúdos inadequados, cyberbullying e dependência de telas ou de jogos on-line.

O psiquiatra Pedro Onari assevera: “A angústia e o sofrimento mental tendem a aumentar, levando-os a mentir e cometer pequenos delitos para sustentar o vício na tentativa de controlar emoções negativas”
Foto: Arquivo pessoal

O vício em jogos eletrônicos, reconhecido como um distúrbio de saúde mental pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é preocupante devido aos danos emocionais e psicológicos que causa. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), junto a mais de cinco mil alunos da rede de ensino público com idades de 12 a 14 anos, revelou que 28% dos adolescentes brasileiros que jogam video game – ou seja, um em cada quatro – apresentam o Transtorno de Jogo pela Internet (TJI), uma condição caracterizada pelo uso excessivo de jogos on-line, prejudicando outras áreas da vida. O estudo do IPUSP mostra que esse grupo é formado majoritariamente por adolescentes do sexo masculino, usuários de tabaco e álcool, que praticam ou sofrem bullying.

Tal comportamento obsessivo pode resultar em atos de violência, como o ocorrido em Patos de Minas (MG), em setembro deste ano. Um menino de 12 anos agrediu a mãe, de 34, com um soco no rosto, causando sangramento e hematomas, após ser repreendido por gastar dois mil reais com o cartão de crédito dela para acessar essa modalidade de jogo. O pai, seguindo orientação da Polícia Militar, buscou o filho e foi aconselhado a procurar tratamento psicológico para o adolescente, afastando-o momentaneamente da mãe.

A Pra. Marilza Lima opina: “Estamos caminhando para um tempo em que a estrutura familiar, criada por Deus, está sendo distorcida”
Foto: Arquivo pessoal

Danos à saúde – Diante de situações como a de Minas Gerais, o psiquiatra Pedro Onari, fundador do Instituto Onari, em São Paulo (SP), afirma ser necessário buscar ajuda profissional por se tratar de um distúrbio mental provocado pelo vício. “O especialista deve procurar entender a dinâmica familiar”, observa. Ele enfatiza que é fundamental investigar o relacionamento do casal e do comportamento do adolescente com os pais, visando identificar dificuldades de comunicação e procurando restaurar os laços afetivos.

Onari alerta que, assim como ocorre na dependência de substâncias, a pessoa pode apresentar sintomas de abstinência ao ser impedida de acessar os jogos via internet, manifestando comportamento violento e instabilidade emocional. “A angústia e o sofrimento mental tendem a aumentar, levando-os a mentir e cometer pequenos delitos para sustentar o vício na tentativa de controlar emoções negativas”, assevera o psiquiatra. Segundo o especialista, caberá aos pais entender que, com o tempo, esse distúrbio pode causar alterações cerebrais e ocasionar dificuldades de raciocínio e concentração.

A farmacêutica Cleia Ribeiro da Silva, com Matheus, relata: “O desenvolvimento do meu filho é ótimo, e ele consegue, por exemplo, brincar sozinho sem problema”
Foto: Arquivo pessoal

Onari reforça a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria, a qual limita a utilização de telas por, no máximo, duas horas diárias e após os seis anos de idade. “Estudos de ressonância magnética mostram que o contato excessivo com as telas pode causar o afinamento do córtex cerebral, afetando as percepções sensoriais das crianças, como audição e visão”, argumenta, assinalando que os pais devem estar atentos aos sinais de dependência, como a perda da noção do tempo e a incapacidade de controlar os impulsos de jogar. Ele acrescenta que esse quadro “pode impactar os estudos e o relacionamento afetivo com a família, além de diminuir o convívio social e o interesse por atividades diárias.”

O Pr. Roberto Cruvinel comenta: “Os pais são os responsáveis, porque eles têm a tutela dos filhos, não o Estado”
Foto: Reprodução / Canal Vejam Só

Membro da Igreja Batista do Povo, em Vila Mariana, zona centro-sul da capital paulista, o Dr. Pedro Onari afirma que, muitas vezes, crianças bem pequenas são até incentivadas “a se acalmarem” assistindo a vídeos em dispositivos móveis. “Isso ocorre porque muitos pais não têm paciência para interagir com os filhos, restringindo a relação humana às redes sociais”, lamenta o profissional. “Essa geração já nasce com pais imersos na tecnologia, e, como resultado, está adoecendo devido ao contato desmedido com esses recursos.”

Limites e regras – A Pra. Marilza Lima, da sede regional da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), expressa tristeza em relação ao comportamento agressivo de adolescentes resultante da dependência tecnológica, que poderia ser evitada. “Estamos caminhando para um tempo em que a estrutura familiar, criada por Deus, está sendo distorcida”, opina a ministra. Ela ressalta que o inimigo, de maneira sutil, tenta desvalorizar a autoridade dos pais sobre os filhos “a ponto de um adolescente agredir a própria mãe, como aconteceu em Minas Gerais”.

A Pra. Liana Toneto aconselha: “A ordem dentro de casa precisa ser restabelecida, e, portanto, é essencial relembrar aos filhos sobre os valores cristãos e as consequências de seus atos”
Foto: Arquivo pessoal

Ao citar o conhecido texto de Provérbios 22.6 (Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele), a pastora pondera que o processo educacional dos filhos exige um investimento significativo de tempo. “Isso implica estar presente. Se os pais não estão disponíveis, outras pessoas e influências preencherão esse vazio que deveria ser ocupado por eles”, alerta Marilza Lima, observando que o Senhor estabeleceu limites dentro do contexto familiar. “Quando cedem e abrem mão dessa responsabilidade, eles desrespeitam princípios bíblicos”, afirma ela, acrescentando que é dever dos genitores manter a ordem por meio da imposição de regras, tal como está escrito em Provérbios 22.28 (Não removas os limites antigos que fizeram teus pais). “Deus criou preceitos para promover a harmonia no convívio entre pais e filhos.”

Foto: Creativa Images / Adobe Stock

Firmada nesse entendimento da Palavra de Deus, a farmacêutica Cleia Ribeiro da Silva, 35 anos, busca pautar a educação do filho Matheus, hoje com quatro anos. Quando estava grávida, ela leu bastante sobre a exposição precoce às telas para evitar adversidades futuras. “Até os dois anos, meu filho não teve nenhum tipo de contato direto com televisão e outras telas. Hoje, assiste a alguns desenhos específicos com uma frequência reduzida”, conta Cleia, membro da Igreja da Graça em Valparaíso (GO). Para ela, o acesso frequente às telas deixa a criança impaciente e a torna imediatista e dependente, enquanto o contrário produz melhor controle emocional e um crescimento mais saudável. “O desenvolvimento do meu filho é ótimo, e ele consegue, por exemplo, brincar sozinho sem problema.”

Família e igreja – Mestre em Teologia, o Pr. Roberto Cruvinel, da Assembleia de Deus – Ministério IEB em Parque dos Camargos, na cidade de Barueri (SP), demonstra preocupação com esse tema. “Os pais são os responsáveis, porque eles têm a tutela dos filhos, não o Estado”, comenta o ministro do Evangelho, citando a Palavra de Deus: Sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas (Mt 10.16b).

Pr. Márcio Gonçalves: “Muitos filhos buscam esses jogos como uma compensação emocional pela ausência que sentem dos pais”
Foto: Arquivo pessoal

Na opinião de Cruvinel, até mesmo as famílias cristãs são afetadas pela dinâmica de aplicativos virtuais. “Essa é uma questão atual preocupante no seio da igreja. A tecnologia avança de modo assustador, e usá-la de maneira desenfreada pode causar consequências psicológicas e espirituais”, alerta.

Também atenta à responsabilidade dos pais, a Pra. Liana Toneto, da Igreja Batista Vida em Jardim Colorado, na cidade de Vila Velha (ES), aponta que, diante de situações extremas, pai e mãe devem agir com firmeza e amor. “A ordem dentro de casa precisa ser restabelecida, e, portanto, é essencial relembrar aos filhos sobre os valores cristãos e as consequências de seus atos”, aconselha a ministra. Toneto realça que, caso seja necessário, os responsáveis devem buscar o apoio da igreja para serem fortalecidos e instruídos, visando superar este desafio.

A Pra. Sarah Araújo Xavier cita alguns problemas comuns nos dias de hoje: a ausência dos pais no desenvolvimento dos filhos, o fato de a família não fazer junto as refeições à mesa, a falta de acompanhamento das atividades escolares e o pouco tempo de qualidade para conversas e brincadeiras
Foto: Arquivo pessoal

De acordo com a pastora, percebe-se o impacto do acesso precoce e descontrolado à tecnologia nas novas gerações em virtude do prejuízo no desenvolvimento cognitivo e social e, consequentemente, no distanciamento emocional entre pais e filhos. “A internet e os dispositivos móveis oferecem um mundo de possibilidades, mas, se não forem bem administrados, tornam-se armadilhas que levam ao isolamento e à dependência”, assevera Liana Toneto, destacando que os pais precisam buscar sabedoria e ensinar aos filhos o que o apóstolo Paulo recomenda: Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm (1 Co 6.12a).

Pais ausentes – O Pr. Márcio Gonçalves, líder estadual da Igreja da Graça no Espírito Santo, pontua que a falta de orientação quanto ao uso dos eletrônicos pode acarretar sérios problemas. “Muitos filhos buscam esses jogos como uma compensação emocional pela ausência que sentem dos pais no dia a dia”, sublinha.

A Pra. Sarah Araújo Xavier, auxiliar na sede distrital da Igreja da Graça em Brasília (DF), concorda com Márcio, citando alguns problemas comuns nos dias de hoje: a ausência dos pais no desenvolvimento dos filhos, o fato de a família não fazer junto as refeições à mesa, a falta de acompanhamento das atividades escolares e o pouco tempo de qualidade para conversas e brincadeiras. “Sem contar, que, muitas vezes, os próprios pais também são dependentes das tecnologias”, diz a ministra, frisando que a visualização demasiada de telas pode proporcionar danos desastrosos além do vício em si: insônia crônica, miopia, irritabilidade, sobrepeso, problemas cardíacos, diabetes, depressão e ansiedade.

Foto: Kannapat / Adobe Stock

Na opinião da pastora, os pais não podem ignorar os prejuízos físicos, mentais e emocionais proporcionados pela dependência tecnológica. E, ao ser indagada por nossa reportagem sobre qual seria a solução para esse problema, Sarah Xavier declarou ser fundamental que pai e mãe promovam a manutenção de um ambiente familiar tranquilo, no qual os filhos possam se desenvolver de maneira saudável e equilibrada.


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