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Foto: Amy Hirschi / Unsplash

Desafio feminino

Estudos apontam que, no último ano, foram as mulheres que sofreram mais com o desemprego

Por Ana Cleide Pacheco

A pandemia desestabilizou a economia mundial, e o impacto causado pela crise sanitária atingiu, em especial, as mulheres. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (IPEA) mostram que os setores mais atingidos foram justamente aqueles em que elas são maioria. No segmento de Alimentação, em que 58,3% dos profissionais são mulheres, a queda no número de postos de trabalho foi de 51%. Nos Serviços Domésticos, em que elas respondem por 85,7% da força laboral, 46,2% dos postos foram fechados. Em outros setores, como Educação, Saúde e Serviços Sociais, a queda foi de 33,4% – sendo que 76,4% da mão de obra é feminina.

De acordo com informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), quase 1 milhão de trabalhadores perderam o emprego em 2020. Entre março, mês em que diversas empresas foram obrigadas a reduzir suas produções ou mesmo fechar as portas, e setembro, quando houve a retomada de algumas atividades presenciais, mais de 900 mil trabalhadores foram demitidos, e, destes, 65% eram mulheres. “O mais prejudicado, sem dúvida, foi o público feminino. E isso não aconteceu só no Brasil, mas também em todo o mundo”, reitera a médica do trabalho Adriana Jardim Arias Pereira, 45 anos. “Muitas foram dispensadas, e outras tiveram de pedir demissão para dar conta da casa. Várias passaram a cumprir dupla ou tripla jornada, adaptando-se para conciliar o trabalho remoto com os afazeres domésticos e o cuidado com os filhos e o marido”, analisa a especialista, que atua, há 20 anos, na área de Gestão de Saúde de Trabalhadores.

A médica do trabalho Adriana Jardim Arias Pereira, ao falar dos efeitos da pandemia na área do Trabalho e Emprego: “O mais prejudicado, sem dúvida, foi o público feminino” Foto: Arquivo pessoal

A procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) Cirlene Luiza Zimmermann, 39 anos, faz coro com a Dra. Adriana Pereira. “Os estudos apontam que a crise econômica, causada pela disseminação do novo coronavírus, afetou mais as mulheres. Isso sucedeu porque elas atuam fortemente no setor de Serviços, um dos segmentos econômicos mais prejudicados, e porque um grande número delas, pela condição natural de cuidadoras, desistiram da própria carreira.” De acordo com Zimmermann, essas mulheres não conseguiram conciliar o trabalho com a sobrecarga decorrente da atenção exigida pelos filhos pequenos ou pelas pessoas idosas e pelos doentes da família.

A procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) Cirlene Luiza Zimmermann, diz que os estudos apontam que a crise econômica afetou mais as mulheres Foto: Arquivo pessoal

De fato, com a suspensão das aulas presenciais e com os filhos estudando em casa, mulheres que trabalhavam fora passaram a contabilizar atrasos e faltas no cartão de ponto por não terem a quem recorrer para cuidar de seus dependentes. Se a função já era exercida em home office, a concentração e o tempo para execução das tarefas da empresa ficaram prejudicados devido às demandas filiais. Por isso, a procuradora avalia que a pandemia aprofundou desigualdades sociais, econômicas e de gênero. “Não podemos ignorar que nossa economia ainda é bastante patriarcal, e, em um cenário de crise, os homens costumam ter o emprego preservado pelas empresas porque são vistos como os provedores da família.”

A psicóloga Daniela Monteiro Gentil: “O momento pede criatividade, dinamismo e flexibilidade, e milhares de profissionais têm buscado se reinventar” Foto: Arquivo pessoal

Ajuda divina – A psicóloga Daniela Monteiro Gentil, especialista em Recursos Humanos, lembra que, diante das restrições impostas pelo alastramento da doença e da redução do mercado de trabalho, diversas mulheres decidiram empreender. De acordo com ela, as atividades autônomas, que, há alguns anos, vinham ganhando força, deslancharam de vez no último ano. “O momento pede criatividade, dinamismo e flexibilidade, e milhares de profissionais têm buscado se reinventar. Então, nestes tempos, ser resiliente e superar as horas de dificuldade é fundamental.”

A autônoma Simone Cristina Peçanha da Silva e Silva: “Tive de sair e vender salgados e doces nas ruas, pois não podia ficar parada. Graças a Deus, que nunca nos desampara, consegui tirar forças da fraqueza e na batalha me esforçar” Foto: Arquivo pessoal

Que o diga a autônoma Simone Cristina Peçanha da Silva e Silva, 47 anos. Ela ficou desempregada há quatro anos e, sem conseguir recolocação profissional, optou por entrar no ramo de transporte escolar. E, um pouco antes da pandemia, agregou outro trabalho: o preparo de refeições (quentinhas) para venda e ainda de doces e salgados. Com a suspensão das aulas presenciais nas escolas, em março de 2020, Simone buscou forças em Deus para não entrar em desespero. “As coisas estavam indo bem, mas, quando veio a pandemia, vivi meu maior desafio como empreendedora”, relembra-se ela, referindo-se ao fato de que já não podia mais contar com a renda do transporte escolar. Ao mesmo tempo, a autônoma ressalta que o dinheiro arrecadado com as refeições era insuficiente para cobrir todas as despesas. “Tive de sair e vender salgados e doces nas ruas, pois não podia ficar parada. Graças a Deus, que nunca nos desampara, consegui tirar forças da fraqueza e na batalha me esforçar, como está escrito em Hebreus 11.34”, alegra-se a empreendedora, membro da Comunidade Cristã em Ilha de Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ).

A chef de cozinha Tatiana da Silva Martins, 40 anos, há cinco, trabalha com comida fitness (refeições saudáveis). Embora seja professora e formada em Pedagogia, escolheu empreender, vendendo saladas de pote, depois que precisou ficar em casa para cuidar de sua mãe há alguns anos. “O negócio foi crescendo, e, hoje, estou satisfeita com essa decisão”, relata Tatiana, a qual enfrentou os desafios impostos pela doença e pela retração econômica. Afinal, com o contágio generalizado do novo coronavírus, os insumos, que já não eram baratos, ficaram ainda mais caros, obrigando-a a usar a criatividade. “Tive e tenho de me reinventar para conquistar meu espaço. Mas o reconhecimento e o ‘muito obrigado’ de um cliente fazem toda a diferença. E é sempre bom lembrar: mesmo em meio à pandemia, com Cristo, somos vencedores”, garante a chef, membro da Igreja Evangélica Sara Nossa Terra da Taquara, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ).

A chef de cozinha Tatiana da Silva Martins, que trabalha com comida fitness (refeições saudáveis): “O negócio foi crescendo, e, hoje, estou satisfeita com essa decisão” Foto: Arquivo pessoal

Faça a diferença

Em tempos de crise, quando as empresas têm feito cortes de pessoal, é essencial saber o que elas, em geral, esperam de seus colaboradores. A psicóloga Daniela Monteiro Gentil, 40 anos, especialista em Recursos Humanos, explica que habilidades, como resolução de conflitos e flexibilidade podem ser um ponto fortalecedor na manutenção do emprego. Sendo assim, segundo ela, ser um profissional comprometido com as tarefas – que saiba identificar e superar obstáculos de forma proativa – é uma ótima maneira de demonstrar comprometimento com a empresa. “Ir além do trabalho proposto, pensar ‘fora da caixa’ e sair da zona de conforto são qualidades bem recebidas atualmente. Quanto maior o desenvolvimento intelectual e escolar, quanto maiores forem as habilidades e as competências de um indivíduo, maior a chance de ele estar incluído no mercado de trabalho”, ensina Gentil. (Ana Cleide Pacheco)

Enfrentar desafios – Para Antoniel Bastos, 45 anos, presidente do Instituto Rede Incluir, organização não governamental voltada ao empreendedorismo e à capacitação profissional, as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no mercado de trabalho são antigas. “Quando olho para a História, vejo que o primeiro líder a dar voz à mulher foi Jesus. No tempo de Cristo, Ele foi visto como um louco, por quebrar paradigmas. Hoje, não é tão diferente. Também é necessário derrubar, diariamente, esses padrões estabelecidos”, atesta ele, destacando que a desigualdade é uma questão enraizada na estrutura da sociedade e deve ser combatida. “Essa visão começa no seio familiar, com os pais tratando a filha como um ser mais frágil. Apesar de saber que os aspectos biológicos são diferentes, não devemos invalidar a capacidade das meninas.” Para Bastos, fragilidade não é incapacidade. “Pelo contrário, elas são capazes, inteligentes, determinadas e têm um diferencial: são mais sensíveis”, pontua o especialista, que trabalha na área de Gestão de Recursos Humanos há 25 anos.

Antoniel Bastos, presidente do Instituto Rede Incluir: “Quando olho para a História, vejo que o primeiro líder a dar voz à mulher foi Jesus” Foto: Arquivo pessoal

O líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus em Santa Catarina, Antônio Carlos de Andrade Júnior, 42 anos, lembra que certas situações, como gravidez e a própria maternidade, representam desafios para a empregabilidade das mulheres porque podem implicar faltas no trabalho e meses de licença. “Observo que elas enfrentam esses momentos, porém acredito que a Igreja deve ajudá-las”, pondera, acrescentando que a ministração da Palavra de Deus, avivada pelo Espírito Santo, lhes dará a firmeza necessária para encarar todos os desafios do mercado de trabalho. “Como colaboradoras ou empreendedoras, elas vencerão. E a Igreja deve encorajá-las a ter uma vida de oração, o que também é importante.”

Pr. Antônio Carlos de Andrade Júnior: “Como colaboradoras ou empreendedoras, elas vencerão. E a Igreja deve encorajá-las a ter uma vida de oração, o que também é importante” Foto: Arquivo pessoal

Ainda de acordo com Carlos de Andrade, como Corpo de Cristo, as comunidades cristãs devem cooperar de outras maneiras. Para ele, os pastores podem, por exemplo, incentivar os membros a divulgar oportunidades de emprego nos murais das igrejas, e os líderes podem encorajá-las a buscar qualificação, o que vai lhes abrir mais portas no mercado de trabalho. “Temos tantos exemplos de mulheres vencedoras na Bíblia! Mulheres que creem em Deus e se aproximam da Palavra são vitoriosas”, conclui.

Trabalhadoras das Escrituras

Em sua epístola endereçada a Tito (2.4,5), o apóstolo Paulo fala sobre as instruções que devem ser ministradas pelas senhoras mais velhas às jovens esposas: […] que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seu marido, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada. Paulo deixava claro que o cuidado da família é uma importante atribuição dada pelo Senhor à mulher, que a dedicação ao lar glorifica a Ele e se reflete em um bom testemunho da Palavra. Entretanto, não existe qualquer impedimento, nas Escrituras, àquelas mulheres que têm uma ocupação profissional que resulte em provisão para a sua família. Pelo contrário: no Livro Santo, há modelos de mulheres que se dedicavam ao cuidado da casa e a atividades remuneradas. Veja alguns exemplos:

A mulher virtuosa O autor de Provérbios apresenta uma mulher que faz tudo o que está ao seu alcance para cuidar de sua família, inclusive trabalhar para obter uma renda adicional, a fim de contribuir com as despesas da casa (Pv 31.11-31).

Rute – Depois de ficar viúva, recusou-se a voltar a Moabe, sua terra natal, pois preferiu cuidar de sua sogra israelita, também viúva (Rt 1.16). Com seu trabalho árduo, garantiu o sustento de ambas (Rt 2.3). Seu esforço atraiu a atenção de Boaz, um fazendeiro bondoso, que reconheceu suas virtudes e com ela se casou (Rt 4.13).

Lídia – Era uma mulher de negócios bem-sucedida, pois a Bíblia informa que vendia púrpura (At 16.14), um tipo de tecido caro na Antiguidade, comercializado somente aos membros da elite. O Senhor abriu seu coração para ouvir o Evangelho e, tão logo ela e sua família se converteram, todos eles passaram a apoiar o trabalho dos apóstolos, hospedando-os em sua casa na Macedônia (At 16.15).

Priscila – Ao lado de seu marido, Áquila, trabalhava como fabricante de tendas. Também abriu sua casa para o apóstolo Paulo, em Corinto (At 18.3). Ela e o esposo viajaram a Éfeso. Nessa cidade, o casal ministrou a Palavra a um homem chamado Apolo, que se tornaria um grande pregador do Evangelho (At 18.24-26).

(Fonte: Bíblia Sagrada)


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