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01/02/2022Apóstolos e reformadores na Idade Média (Parte 2): Patrício, Columba de Iona, perseguidos e perseguidores
No artigo anterior, falamos de Ulfilas e Martinho de Tours, apóstolos e reformadores na Idade Média. Nesta edição, continuaremos a tratar do mesmo assunto, mas agora falando de Patrício, Columba de Iona, perseguidos e perseguidores.
Patrício (377-461) – Nascido em 377, na Escócia, foi aprisionado por piratas escoceses e vendido como escravo na Irlanda, aos 17 anos. Somente depois de seis anos de cativeiro, ele conseguiu fugir e voltar à sua terra. Esse período sombrio de sua vida levou Patrício a experiências mais íntimas com Deus, nascendo-lhe o desejo de levar o evangelho àquele povo mergulhado nas densas trevas do paganismo. Com o passar dos anos, Patrício se convenceu ainda mais acerca das necessidades espirituais dos irlandeses e mais vocacionado se sentia para levar-lhes a mensagem salvadora do Evangelho.
Seus parentes e amigos tentaram demovê-lo do seu propósito, mas ele, certo da chamada do Senhor, partiu, demorando-se algum tempo na França a fim de preparar-se melhor em contato com gente culta e piedosa. Chegando à Irlanda em 433, e tendo a grande vantagem de já conhecer a língua e os costumes de seus habitantes, começou reunindo ao ar livre grandes multidões que cada vez tinham mais interesse na história da cruz. Muitos camponeses rudes foram convertidos a Cristo, abandonando a idolatria para servirem ao Deus vivo. Sua maior luta foi contra o druidismo, terrível culto em cujo ritual criaturas humanas eram impiedosamente sacrificadas vivas em enormes fogueiras. Patrício, que ficou conhecido como o apóstolo da Irlanda, trabalhou mais de 30 anos e ganhou uma nação inteira para Cristo!
Columba de Iona (521-597) – A grande obra de evangelização levada a efeito na Irlanda por Patrício prosperara de tal maneira que, em 565, um grupo de missionários, liderado por Columba de Iona, partiu desse país para a Escócia, onde foi evangelizar as regiões ainda pagãs. A gloriosa semente do Evangelho, levada à Irlanda por um escocês, tornara-se agora uma grande árvore que estendia seus ramos à terra natal de seu maior apóstolo. Columba e seus fiéis cooperadores se entregaram de corpo e alma à missão que os levou àquela gente.
Cheios de amor às almas, oravam e pregavam, indo de casa em casa e de povo em povo. Em pouco tempo, já havia muitos novos convertidos, e, para que eles recebessem o necessário ensino, fundou-se uma escola de Teologia, na qual se estudava a Bíblia metodicamente. Os resultados desse abençoado ensino foram surpreendentes, e o número de crentes era cada vez maior.
Perseguidos e perseguidores – Durante o período que abrange os séculos 5 a 9, os cristãos que mais se aproximavam do padrão bíblico eram conhecidos como donatistas, cátaros e paterinos. Nem todos eles permaneceram inteiramente fiéis às doutrinas do Novo Testamento, embora procurassem, dentro das limitadas luzes que possuíam, seguir as pisadas de Cristo. Em virtude das próprias circunstâncias em que esses cristãos viveram, não se sabe muita coisa acerca desse longo e tenebroso período da História Cristã.
Considerados “hereges”, os verdadeiros cristãos não possuíam as Escrituras Sagradas no seu todo, mas, apenas, partes dela. E, mesmo essas partes, constituídas de rolos de papiro ou pergaminho manuscritos, eram volumosas e difíceis de serem protegidas. Todos os que persistiam em ensinar doutrinas diferentes da Igreja Católica Romana ou aqueles que historiavam a vida desses dissidentes eram duramente perseguidos. Nos séculos 5 a 12, havia três grupos distintos de cristãos: os romanos, encabeçados por Gregório VII e Inocêncio III, que pretendiam fundar uma monarquia universal; os ortodoxos (que defendiam a ideia de uma igreja nacional) e os evangélicos (valdenses e albigenses, que eram apologistas da separação). Somente este último grupo tinha a Bíblia como regra de fé e prática e procurava viver santamente. Eram esses os continuadores dos movimentos cristãos e, biblicamente, correspondiam à verdadeira Igreja de Cristo.
Os valdenses, assim chamados por terem como líder Pedro Valdo (1140-1205), rico comerciante de Lyon, na França, iniciaram seu movimento por volta de 1170. Eles rejeitavam a missa, as orações pelos mortos e a doutrina do purgatório, por falta de apoio bíblico, e enfatizavam a pregação dos leigos e a leitura constante do Novo Testamento. Valdo não tinha a intenção de romper com Roma, mas foi excomungado pelo papa no fim do século 12. Esse reformador traduziu porções das Escrituras para o francês e adotou o método evangelístico de Jesus, ao enviar 70 discípulos para que pregassem o Evangelho. O movimento se espalhou pelo Sul da França, Itália e Espanha.
Os albigenses, por sua vez, apareceram por volta de 1200, principalmente no Norte da Itália e no Sul da França. Negavam os sacramentos eclesiásticos, aceitando somente a Santa Ceia e o batismo. Tinham as Escrituras como suprema autoridade e criticavam o poder e a riqueza da igreja romana. Esse movimento popular e bíblico foi destruído logo no seu início pelos 300 mil cruzados de Simão IV de Monforte (1160-1218). Somente na cidade de Beziers, em 1209, esses soldados da cruz massacraram entre 20 mil e 100 mil pessoas. Os massacres de albingenses prosseguiram em outras cidades: homens e crianças eram mutilados; as mulheres, desonradas; as vilas, queimadas, e as cidades entregues à pilhagem e seus habitantes, mortos à espada.
Abraão de Almeida
Pastor da Igreja Evangélica Brasileira em Coconut Creek, Flórida, EUA, e autor de mais de 30 livros em português e espanhol. E-mail: abraaodealmeida7@gmail.com