FÉ FRUTÍFERA
13/10/2025
FÉ FRUTÍFERA
13/10/2025

Para pastores e especialistas, a internet não é um meio confiável para esclarecer dúvidas bíblicas

Foto: Olga Gorkun / Adobe Stock

Por Evandro Teixeira

O questionamento é um componente essencial na construção do conhecimento. Ao longo da História, filósofos, como o grego Sócrates (470 a.C.- 399 a.C.) e os alemães Immanuel Kant (1724-1804) e Karl Jaspers (1883-1969), enfatizaram a importância da pergunta como ferramenta para encontrar a verdade. Segundo alguns estudiosos da Palavra de Deus, a indagação – algo natural e até necessário para esclarecer questões bíblicas – pode levar, em última análise, ao amadurecimento espiritual. No entanto, pastores e teólogos ressaltam que, durante esse processo, é fundamental avaliar a origem das respostas, sobretudo na era da internet, marcada por intensas buscas por meio de ferramentas de inteligência artificial (IA).

O professor de Teologia Gilberto da Silva adverte: “O melhor caminho para encontrar esclarecimentos é por meio da comunhão com Deus por intermédio de Jesus Cristo, de quem provém todas as respostas”
Foto: Arquivo Graça / Marcelo Santos – modificada por IA

Até mesmo cristãos recorrem a essa tecnologia à procura de explicações para temas centrais do Evangelho. De acordo com a publicação evangélica norte-americana Relevant Magazine, de janeiro a setembro de 2025, usuários da web nos Estados Unidos, com idades de 18 a 39 anos, pesquisaram assuntos, como a existência de Deus e a confiabilidade da Bíblia. Ao receber essa informação, a redação de Graça/Show da Fé decidiu ouvir líderes e estudiosos evangélicos para saber se os crentes brasileiros também seriam movidos pela mesma curiosidade.

O teólogo Anderson Barreto de Souza lamenta que ainda existam cristãos que se confundam quanto aos aspectos fundamentais do cristianismo
Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA

No entendimento do professor de Teologia Gilberto da Silva, mestre em Ciências da Religião, as pesquisas de opinião realizadas ao longo das últimas décadas demonstram que as principais inquietações da humanidade estão ligadas a questões sobre Deus e fé. “Independentemente de religião ou credo, há sempre uma dúvida que paira no coração do homem, podendo produzir uma crise existencial ou de identidade”, pontua o especialista, indicando que, em um ambiente dominado pela cultura cristã, como os Estados Unidos, é natural haver reflexões como as observadas no levantamento. Para ele, as dúvidas sempre existirão porque a busca por conhecimento é inerente à natureza humana. “Mas, apesar dos recursos tecnológicos, o melhor caminho para encontrar esclarecimentos é por meio da comunhão com Deus por intermédio de Jesus Cristo, de quem provém todas as respostas.” [Leia, na página 22, o quadro O que a Bíblia diz?]

O Pr. Diego da Silveira de Souza observa que há um comportamento padronizado, evidenciando uma demanda por respostas, e aponta: “Não podemos impedir as pessoas de pesquisar, mas devemos indicar as melhores fontes”
Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA

Já o teólogo Anderson Barreto de Souza acredita que, no Brasil, as indagações seriam as mesmas dos estadunidenses. Isso porque, na percepção dele, os questionamentos acerca da existência de Deus e da confiabilidade da Bíblia surgem no ser humano independentemente de sua nacionalidade. “O homem é o mesmo em todos os lugares, e essas questões fazem parte da História da humanidade”, pondera ele, lamentando que ainda existam cristãos que se confundam quanto aos aspectos fundamentais do cristianismo. De acordo com Barreto, isso se deve, em parte, à falta de interesse de alguns evangélicos em se aprofundarem no estudo da Palavra. “A Escola Bíblica ainda é negligenciada por muitos que se dizem crentes. As dúvidas apontadas na pesquisa parecem vir de pessoas sem qualquer conhecimento bíblico ou que ainda são novas na fé”, analisa.

Arquivo Graça / Solmar Garcia

Comportamento padrão – Na avaliação do Pr. Diego da Silveira de Souza, da Primeira Igreja Batista no Jardim Meriti, em São João de Meriti (RJ), a princípio, não há problema em fazer qualquer consulta na internet a respeito de assuntos bíblicos. Na prática, é impossível mensurar a motivação dessa busca, que pode ser apenas uma curiosidade. No entanto, a partir do momento em que uma plataforma consegue registrar o aumento desse tipo de verificação por meio de algoritmos [sequência de instruções claras e finitas que permite a resolução de problemas ou a execução de tarefas específicas], há uma clara indicação de um comportamento padronizado, evidenciando uma demanda por respostas. “Não podemos impedir as pessoas de pesquisar, mas devemos indicar as melhores fontes”, aponta.

O Pr. Rogério Postigo lembra que o aprendizado bíblico deve estar fundamentado no Evangelho: “É essencial examinar as Escrituras para conhecer profundamente o Autor e Consumador da nossa fé”
Foto: Arquivo Graça / Solmar Garcia – modificada por IA

No passado, observa o pastor, os livros eram os principais meios de verificação de informações. Todavia, nas últimas duas décadas, as mídias digitais ocuparam parte desse espaço, disponibilizando aos usuários diferentes conteúdos. Nestes tempos, em que é possível criar, com facilidade, um site, um podcast ou um canal de vídeos nas plataformas digitais, é de se supor que nem sempre os materiais apresentados terão boa qualidade. Nesse caso, cabe ao internauta avaliar até que ponto o material acessado é confiável. “Analisar o perfil do criador daquele conteúdo é cada vez mais necessário para saber se as respostas alcançadas têm profundidade e confiabilidade”, orienta.

Foto: Natrot / Adobe Stock

Seguindo o mesmo raciocínio, o Pr. Rogério Postigo, líder estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD) em Minas Gerais, lembra que o aprendizado bíblico deve estar fundamentado no Evangelho. Ele pontua que a dúvida sobre a existência de Deus, por exemplo, pode surgir no início da caminhada cristã. Essa incerteza pode ser uma oportunidade para o fortalecimento da fé, sobretudo quando conduz a uma experiência genuína com o Senhor. “Aqueles que apenas ouvem, mas não vivenciam a Palavra, tendem a se sentir inseguros. Por isso, é essencial examinar as Escrituras para conhecer profundamente o Autor e Consumador da nossa fé”, prega o líder, fazendo menção ao texto de Jeremias 29.13: E buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. [Leia, ao final desta reportagem, o quadro Fonte segura]

O Pr. André Senna opina: “Aqueles que desprezam as ferramentas oferecidas pelas igrejas terão dificuldade de crescer no conhecimento e construir uma boa base doutrinária, que, dificilmente, será encontrada no universo virtual”
Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA

Orientação bíblica – De acordo com o Pr. André Senna, da Igreja Batista Memorial, no bairro Cachambi, na zona norte do Rio de Janeiro (RJ), a presença da liderança eclesiástica na instrução dos membros quanto aos temas teológicos é fundamental. “Procurar o líder será sempre uma opção válida. Além de demonstrar respeito àquele que está à frente do ministério, isso contribuirá para aumentar o nível de amizade e confiança entre eles”, frisa Senna, que também é professor de Teologia. Ele acrescenta, entretanto, que existem outros especialistas ligados ao ensino bíblico, igualmente capacitados, que podem oferecer os devidos esclarecimentos.

O Pr. Marcos Paulo Feltrin aconselha o servo do Senhor a procurar primeiro o pastor quando quiser esclarecer algo do Livro Santo e defende: “A comunhão entre membros e líderes precisa ser pautada na confiança e na proximidade”
Foto: Arquivo pessoal – modificada por IA

O pastor afirma que, embora a internet possa fornecer algumas respostas, nada substitui o contato pessoal, a possibilidade de o líder indagar o “pesquisador” a respeito das razões de suas abordagens. “A pessoa pode estar vivendo um drama pessoal, e o Google não consegue ver suas lágrimas, segurar suas mãos ou orar por ela.” Na opinião de Senna, a igreja precisa estar preparada para ouvir todo tipo de pergunta e falar de temas bíblicos, mas também para debater assuntos, como aborto e racismo, nas escolas bíblicas. “Aqueles que desprezam as ferramentas oferecidas pelas igrejas terão dificuldade de crescer no conhecimento e construir uma boa base doutrinária, que, dificilmente, será encontrada no universo virtual”, opina o pregador.

Foto: Jadon Bester / peopleimages / Adobe Stock

Pensamento parecido tem o Pr. Marcos Paulo Feltrin, líder regional da Igreja da Graça em Itapecerica da Serra (SP), o qual aconselha o servo do Senhor a procurar primeiro o pastor quando quiser esclarecer algo do Livro Santo. “Vivemos em uma comunidade de fé. Então, a comunhão entre membros e líderes precisa ser pautada na confiança e na proximidade”, defende Feltrin, deixando claro que, ao buscar informações na web, há sempre o risco de receber orientações equivocadas. “As igrejas evangélicas devem estar cientes de que um dos caminhos a seguir é potencializar os vínculos entre liderança e membresia, fortalecendo a comunhão com Deus e entre os irmãos de fé.”

Divulgação / Graça Editorial

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *