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Correspondente de Missão Portas Abertas expõe a realidade dos cristãos na Síria

Foto: Divulgação / Missão Portas Abertas

Por Marcelo Santos

Em meio à guerra civil iniciada em 2011, que já dizimou mais de meio milhão de pessoas na Síria, os cristãos sírios vivem um período de expectativa após a queda do regime autoritário de Bashar al-Assad, que governou o país por 24 anos. Com a chegada de Ahmad al-Sharaa ao poder, em 2024, vieram promessas, como o fim das sanções econômicas internacionais e a promulgação de uma nova Constituição. Embora ainda prossigam conflitos isolados entre grupos armados de oposição e as forças governamentais, espera-se que a mudança de regime sinalize um capítulo diferente na história daquela nação do Oriente Médio de 25 milhões de habitantes. Em contraposição à esperança de dias melhores, os crentes em Jesus continuam enfrentando desafios, como restrições à liberdade religiosa e dificuldades básicas de subsistência no país, majoritariamente islâmico.

Para compreender melhor esse cenário complexo, Graça/Show da Fé conversou com Matthew Burns [pseudônimo usado por questão de segurança], porta-voz da Missão Portas Abertas para o Oriente Médio e o Norte da África. Com vasta experiência em países como Síria, Iraque e Líbia, Burns conhece a realidade das igrejas locais e os riscos enfrentados por quem decide seguir a fé cristã em contextos de perseguição religiosa. Nesta entrevista exclusiva, ele detalha as decisões recentes do novo governo sírio e as ações dos grupos cristãos naquele território tradicionalmente hostil ao Evangelho.

Com a saída de Bashar al-Assad e a ascensão de Ahmad al-Sharaa ao poder, há mudanças significativas na situação dos cristãos na Síria?

Existe uma sensação de alívio com o fim de mais de cinco décadas do regime autoritário da família al-Assad. Para grande parte dos sírios, é a oportunidade de recomeço. Os cristãos seguem com permissão para realizar cultos e celebrar o Natal e a Páscoa sem sofrer repressão. A reaproximação internacional e o possível fim das sanções também geram expectativas positivas. Mas há cautela: ninguém sabe se o governo manterá esse espírito inclusivo. Outro fator de insegurança são as milícias extremistas armadas, que agem de maneira independente em algumas regiões. E a grande dúvida é se as autoridades atuais conseguirão garantir a segurança e a estabilidade para todos.

Muitos cristãos sírios celebraram, recentemente, a promessa do presidente estadunidense Donald Trump de suspender sanções econômicas ao país. Haveria melhorias nas condições de vida das famílias cristãs?

Cristãos de várias denominações receberam, com esperança, os anúncios, tanto dos Estados Unidos quanto da União Europeia, sobre a suspensão das sanções. Essas medidas haviam paralisado a economia da Síria, e diversos líderes religiosos pediram, ao longo dos anos, que fossem revistas. Os efeitos não são imediatos, mas há uma expectativa real de que a economia volte a girar e melhore a renda das famílias — lembrando que 90% da população síria vive abaixo da linha da pobreza. Além disso, essa suspensão pode atrair investidores e acelerar a reconstrução do país após 14 anos de guerra.

A proposta da nova Constituição síria tem causado preocupação entre os cristãos. Quais são os pontos mais sensíveis?

O projeto da nova Constituição, assinado pelo presidente Ahmad al-Sharaa, em março de 2025, mantém algumas cláusulas preocupantes: o líder do país deve ser muçulmano e a jurisprudência islâmica (Sharia) é definida como a principal fonte de legislação. Embora algumas disposições constitucionais sejam bastante semelhantes às anteriores, os novos artigos reforçam a centralidade da Sharia na vida pública. O nome do país continua sendo República Árabe Síria, mas a Carta Magna não declararia o islamismo como religião oficial do Estado, o que a diferenciaria de outras nações da região. Por ora, não há evidências de aumento direto na repressão à liberdade religiosa, mas os cristãos estão notando mudanças culturais, como a separação de homens e mulheres em espaços públicos e códigos de vestimenta mais rígidos, indicando o avanço da influência islâmica.

Mais da metade da população cristã deixou a Síria nos últimos anos. Essa fuga continua ou há indicativos de retorno?

A comunidade cristã encolheu de modo drástico – de 1,8 milhão de pessoas em 2011, para, aproximadamente, 579 mil atualmente – devido ao longo período de conflito interno. Infelizmente, ainda não há indícios concretos de retorno dessa população. Muitos servos de Cristo são mais cautelosos que outros grupos, como os muçulmanos sunitas [corrente mais tradicional e ortodoxa do islã]. Eles querem observar primeiro como será a convivência religiosa nessa nova fase da Síria.

A Síria está entre os países com os mais altos índices de perseguição aos cristãos. Por quê?

Na Lista Mundial da Perseguição (LMP) de 2025 da Missão Portas Abertas, a Síria surge em 18º lugar. A maior pressão recai sobre ex-muçulmanos que se converteram a Cristo. Eles são, frequentemente, rejeitados pelas próprias famílias, expulsos de casa, agredidos e ameaçados, e muitos perdem o emprego ou têm dificuldade de inserção social. Portanto, a perseguição é intensa no ambiente familiar e comunitário.

O país vem enfrentando também um aumento na criminalidade. Esse problema afeta mais os cristãos?

A insegurança afeta todos. Os cristãos, como os demais cidadãos, evitam sair à noite ou circular em áreas perigosas. Em algumas cidades, formaram grupos comunitários de vigilância — desarmados — para proteger seus bairros. A violência urbana é mais uma camada de sofrimento para um povo já extremamente fragilizado.

A tecnologia tem sido aliada na propagação do Evangelho em regiões com restrições à fé cristã. Isso também ocorre na Síria?

Os meios digitais desempenham um papel fundamental. Eles alcançam inúmeros corações e muitas mentes, especialmente entre os mais  jovens. Em contextos nos quais a evangelização tradicional é perigosa, a internet representa uma porta aberta.

O senhor mantém contato com cristãos perseguidos em diversos países. Qual foi a história que mais o tocou?

Recentemente, no Iraque, conheci Yasin, um ex-muçulmano que teve um sonho com Jesus. Ao relatá-lo a um líder religioso, ele foi desencorajado, mas encontrou apoio em um cristão conhecido. Com a ajuda desse servo, iniciou um discipulado e escondeu uma Bíblia em casa. Sua conversão provocou reações violentas: o irmão tentou matá-lo, sua casa foi alvo de ataques, e ele recebeu ameaças de morte. Ainda assim, permaneceu firme. Com o tempo, os filhos de Yasin e a esposa também aceitaram Jesus. Por isso, eles sofrem rejeição social. Ninguém compra na loja da família, e os filhos dele não conseguem se casar, mas Yasin diz que Deus o
chamou para estar ali, e é onde permanecerá.

Matthew Burns
Porta-voz da Missão Portas Abertas para o Oriente Médio e Norte da África

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