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15/08/2024Cantor do Evangelho
O norte-americano Ira David Sankey usou seu talento artístico para pregar a mensagem de Cristo em vários países
Por Élidi Miranda*
Grandes intérpretes musicais e compositores são lembrados mesmo depois de sua morte. É o caso do norte-americano Ira David Sankey (1840-1908), um dos maiores nomes da música evangélica do século 19. Nascido em uma família de posses, em um pequeno vilarejo no estado da Pensilvânia, ele teve a oportunidade de estudar música e, ainda criança, aprendeu as primeiras notas musicais. Autodidata, seguiu aprendendo a tocar órgão por conta própria.
Seus pais, piedosos cristãos, apresentaram-lhe o Evangelho. Porém, Sankey somente entregou a vida a Cristo aos 16 anos. Algum tempo depois, a família deixou a fazenda onde vivia para morar em Newcastle, também na Pensilvânia. Lá, o rapaz se juntou à Igreja Metodista Episcopal, tornando-se regente do coral. Sua bela voz de barítono se destacava dentre os demais jovens e começou a atrair a atenção de pessoas que iam à congregação, apenas para ouvi-lo cantar.
Em 1860, Sankey se alistou no Exército e, frequentemente, ficava responsável pela música nos cultos. Quando terminou seu período de serviço como soldado, voltou para casa e passou a trabalhar com o pai, na época um alto funcionário público. Em 1863, o rapaz se casou com Fanny V. Edwards, que seria sua fiel ajudadora pelo resto da vida.
Cada vez mais conhecido pelo seu talento, Sankey recebia muitos convites para cantar em diversas cidades da Pensilvânia e do estado de Ohio. Porém, seu ministério musical ganharia outra dimensão em 1870, ao ser convidado para se apresentar em uma convenção de jovens cristãos em Indianápolis (Indiana). O pregador do encontro era o evangelista Dwight L. Moody (1837-1899), líder de uma igreja em Chicago, no estado de Illinois.
Ao final de um dos cultos, Sankey foi apresentado ao pastor e, certa vez, descreveu o encontro: Quando me aproximei do Sr. Moody, ele deu um passo à frente e, pegando-me pela mão, olhou para mim daquele jeito perspicaz e penetrante, como se estivesse lendo minha própria alma. Então, disse abruptamente: ‘De onde você é?’ ‘Pensilvânia’, respondi. ‘Você é casado?’ ‘Sou.’ ‘Quantos filhos tem?’ ‘Dois.’ ‘Qual é o seu negócio?’ ‘Sou um funcionário do governo.’ ‘Bem, você terá de desistir!’ Fiquei surpreso demais para responder, e ele continuou como se o assunto já estivesse decidido: ‘Tenho procurado por você há oito anos. Terá que vir a Chicago e ajudar no meu trabalho.’
Assim, em 1871, depois de alguma hesitação e muita insistência de Moody, Sankey aceitou passar uma semana com ele em Chicago. Dias depois, o jovem músico já estava decidido a renunciar ao cargo que tinha no governo para unir forças com o evangelista. A insistência do pastor se fundamentava sobre sua crença de que a pregação da Palavra de Deus é mais bem recebida quando os corações são “amaciados” pela boa música.
De fato, a parceria foi bem-sucedida, e as reuniões com a dupla Moody-Sankey começaram a atrair muitas pessoas. Em 1872, o cantor se mudou com a família para Chicago. No ano seguinte, Moody e Sankey foram convidados a cruzar o oceano para realizar uma série de encontros no Reino Unido, onde alcançaram muitas almas com a mensagem de Cristo.
Nessa viagem, Sankey começou a compor suas próprias canções, quase sempre com teor evangelístico. Suas letras, estritamente bíblicas, e sua interpretação comovente o tornariam conhecido como o cantor do Evangelho. A fama da dupla cresceu rapidamente na Grã-Bretanha e, as reuniões realizadas em Londres contaram com presenças ilustres, como a rainha Vitória (1819-1901), e outros membros da Família Real. Com os solos abençoados de Sankey e os sermões brilhantes de Moody, os dois ficaram tão famosos que tiveram de permanecer no país pelos dois anos seguintes, apresentando-se nas principais cidades da Inglaterra, Escócia e Irlanda. Eles retornaram aos Estados Unidos somente em 1875.
Ovelha perdida – De volta à América, os convites nos EUA também se multiplicaram. A dupla liderava cruzadas evangelísticas por toda a costa leste estadunidense e no Canadá e México, sempre com uma grande colheita de almas. Durante os anos que se seguiram, os evangelistas fizeram diversas viagens à Grã-Bretanha.
Sankey continuava a compor. Porém, sua mais famosa obra nasceu de um evento peculiar. A letra original era um poema inspirado na parábola da ovelha perdida (Lc 15.1-7), que Sankey vira publicado em um jornal escocês. Considerando-o muito bonito, recortou-o e o guardou consigo. Naquela semana, Moody pregou sobre outra parábola do mesmo capítulo de Lucas, a do filho pródigo (Lc 15.11-32) e, ao final do sermão, pediu que Sankey cantasse algo relacionado à passagem. Então, ele se lembrou do poema, colocou a tira de papel sobre o órgão e passou a tocar e a entoar as palavras ali registradas com uma melodia inédita. O hino, intitulado A ovelha perdida, fez tanto sucesso que foi traduzido para o português pelo missionário escocês Robert Reid Kalley (1809-1888) e publicado no Salmos e Hinos, o primeiro hinário brasileiro.
O trabalho memorável de Ira David Sankey se encerrou quando o cantor do Evangelho perdeu a visão por volta de 1903, cinco anos antes de sua morte. Ele partiu para a morada eterna em 13 de agosto de 1908, em sua casa, na cidade de Nova Iorque, deixando dezenas de composições que são lembradas até hoje. (*Com informações de Wholesome Words e Wikipédia)